Mindful eating e o chocolate da Laila

O conceito de Mindful Eating é novo para mim. Mas a idéia de aproveitar a comida, com calma, é antiga. 

Eu sou uma filha única rodeada de primos. De todos os lados. Três deles são irmãos e passaram a infância em Barbacena, cidade natal da minha mãe. Vizinhos dos meus avós maternos, moraram numa casa enorme, onde passei boa parte dos meus finais de semana e férias. 

Minha tia, mãe deles, trabalhava o dia todo. Para regular as brigas, não tinha excesso pra ninguém. Era tudo bem contado. Se um ganhava o chocolate, os outros ganhavam na mesma proporção. E eu entrava na dança. 

Como aprendi a comer 'delicadamente'

Eu sempre sou questionada porque resolvi virar nutricionista e, até hoje, não sei a real motivação. Mas sei que várias coisas que aprendi na faculdade (e depois) já estavam enraizadas no meu comportamento alimentar. E uma delas é o comer lentamente e com atenção.

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Pensando em como aprendi a aproveitar cada pedaço do alimento, sem comer com voracidade, me lembrei de duas ocasiões em Barbacena. Laila, minha prima, que me ensinou isso mesmo sem saber. Lembro- me de duas ocasiões. Numa delas, ganhamos uma barra de chocolate. Eu abri e comi, com aquele prazer adoçado infantil. Laila comeu um pedaço, e guardou o resto. No dia seguinte, a vi comendo outro pedacinho. Que raiva! O meu tinha acabado e, como combinado, era um para cada um. Passei o resto do final de semana 'aguada', como costumávamos falar.

Numa outra ocasião, fomos até a vendinha da rua de baixo comprar chiclete. Era um chiclete duro e cor de rosa, retangular: Ping Pong. Ele tinha uma divisões. Saímos da vendinha e sentamos na mureta da casa ao lado, vendo os carros passar. Laila abriu o chicletes, pegou uma parte das divisões, colocou na boca, enrolou o resto e guardou no bolso. Copiei. A minha prima mais velha sabia das coisas. 

No outro dia, tinha mais chiclete pra mascar. 

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Nesse último natal, ganhei uma caixinha com biscoitos feitos pela Gabi, uma paciente muito querida. A receita dos biscoitos é da mãe dela, e são deliciosos. Haviam uns 9 biscoitos caseiros enrolados em um guardanapo. Duraram até hoje, 15 dias depois.

Hoje, tomando café e comendo um dos biscoitinhos, pensei em quantas pessoas sentem dificuldade em comer cada coisa delicadamente. Pensei em como aprendi a fazer algo durar por mais tempo. É uma dificuldade que eu não tive, mas que muitos tem. Não é falta de controle, sem vergonhice ou falta de vergonha na cara. São anos aprendendo a comer rapidamente, por pressa, vergonha ou medo. 

Comer lentamente e aproveitar cada pedaço é um aprendizado. Eu, por sorte, aprendi cedo com o chiclete da Laila. E hoje adoro saber que, quanto mais devagar eu comer, mais tempo eu terei aquela delícia. 

Toda vez que for comer algo gostoso, pense nisso. Quanto mais tempo preservarmos aquilo, mais tempo teremos e mais prazer vamos tirar de cada pedaço!

Um bom domingo,

Marina