A informação vale para você?

A gente vê vários tipos de informação relacionada a nutrição por aí. São conflitantes, assim como qualquer outro assunto que envolva ciência. Obviamente tem umas coisas que né... difícil digerir. Por exemplo: ontem uma cliente me disse que viu num programa de televisão, na qual a apresentadora disse que comer banana é ruim, porque 'banana esfria o corpo'. Como assim banana esfria o corpo gente? 

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Mas enfim, vamos voltar ao que interessa... No meio desse mundo de informações, tem muita coisa que faz sentido sim. Mas não do jeito que a gente acha que faz. O que acontece é que elas vão sendo passadas sem um pingo de responsabilidade e atenção! Lembram daquela brincadeira telefone sem fio?

O mundo dos suplementos, por exemplo, tem muito disso. Muitas vezes um profissional (que pode ser da saúde, ou até da área do jornalismo) lê um artigo que demonstra que, por exemplo, determinado suplemento melhora o desempenho de velocidade em um determinado grupo de atleta, submetido a um determinado treinamento.

Como geralmente um estudo vem de uma pergunta já levantada após um estudo anterior, esse ciclo é quase sem fim...

Imagine a seguinte manchete:

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Agora imagine a seguinte manchete:

Obviamente a segunda manchete vende MUITO mais do que a primeira. Então, por lógica, a mídia - e o mercado esperto, pronto para vender suplemento XYZ pra você, que nada 2000 metros 2x/semana - adota essa forma de comunicação . Ah, lembrando que esse mesmo mercado aproveita e usa os dados do estudo da maneira que quer, enviesando os resultados afim de demonstrar que realmente esse suplemento pode ser maravilhoso para você, que está bem longe de ser um atleta.

Porém, se observarmos esse estudo (hipotético, no caso), verá que ele foi feito num grupo muito específico de nadadores, atletas, submetidos a treinos e provas de 200m, homens, com idade média entre 20 e 30 anos, peso corporal numa faixa específica, e mais outros 10.000 detalhes.

A conclusão do estudo é que a suplementação de XYZ melhorou 3 segundos no tempo dos atletas.

Melhorou o desempenho? Obviamente. Você pode até achar que não, mas 3 segundos para um atleta desse nível pode significar o recorde.

 Michael Phelps, por exemplo, havia alcançado o recorde do 200m de nado borboleta em 2009: 1 minuto, 51 segundos e 51 centésimos. Agora em agosto ele bateu o próprio recorde, alcançando a borda da piscina em 1 minuto 52 segundos 94 centésimos. A diferença parece pouca, mas não é.

Mas e pra você, praticante de atividade física, que treina no máximo 3x/semana, 1 hora por dia? Será que existe a real necessidade de consumir esse suplemento? Acho que não

Isso acontece também perto da gente, o tempo todo. Quantas vezes nos deparamos com pessoas afirmando que excluir determinado alimento as fez emagrecer. Será mesmo que foi aquele alimento? 

Certa vez, conversando com uma amiga, ela insistia que queria comer Goji Berry, porque a prima tinha comido e emagrecido aos montes, mesmo sem fazer muito esforço. Expliquei tuuuuudo sobre o Goji Berry, sobre o processo de emagrecimento, mas ela se mostrou irredutível. E como o bom senso manda, disse para ela que se isso fosse deixá-la feliz e seguir em frente, ela poderia comer (afinal, mal não ia fazer). Sempre faço questão de deixar bem claro que não existe NENHUM alimento milagroso, e isso não quer dizer que vou limitar a vida de ninguém: se não faz mal e você quer consumir, vá em frente!

Ela me contou que a prima havia começado a comer goji berry e sem fazer dieta alguma, sem mudar nada na alimentação, e havia emagrecido 1,5kg no primeiro mês. Deixando o papo da dieta de lado, ela me disse que essa prima tinha deixado a vida de mercado financeiro de lado e estava trabalhando com o seu sonho: fotografia. Antes ela trabalhava na Av. Faria Lima, e agora estava trabalhando em um projeto super legal próximo a estação Paraíso do Metrô. Papo vai, papo vem, ela contou que a prima estava muito feliz na nova vida, depois de ter passando vários perrengues no mercado financeiro. E continuou: "mudou de vida! Vendeu o carro! Agora vai a pé para o trabalho, está considerando até comprar uma bicicleta quando a cicolvia da Paulista ficar pronta (ela não havia inaugurado ainda)".

CÊ JURA QUE FOI O GOJI QUE FEZ ELA EMAGRECER, AMIGUE? - foi o que pensei

Gente, tá na cara que a bendita prima emagreceu pelo fato de ter deixado os 30 (ou mais) minutos de engarrafamento do Higienópolis até a Av. Faria Lima e começado a andar 45 minutos do Higienópolis até a estação Paraíso - ida e volta, obviamente.

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Algo similar aconteceu quando surgiu a 'moda' do chá verde: todo mundo começou a tomar chá verde de maneira quase compulsiva. Tudo isso porque alguns estudos começaram a observar a participação das catequinas presentes nesse tipo chá nos tratamentos auxiliares de perda de peso. Esses mesmos estudos tem vários detalhes muitas vezes, 'ignorados' ou 'omitidos' pela indústria e pelos veículos de comunicação.

No caso do chá verde, se você observar os estudos conduzidos no Japão aqueles que não foram feitos lá, a diferença é notável: na terra do Sol Nascente, a perda de peso foi maior do que nos outros locais. O que isso nos mostra? Uma infinidade de detalhes: a diferença étnica, alimentação específica dos japoneses, tipo de planta e cultivo, entre outros.

Além disso, mesmo considerando o efeito termogênico do chá, essa diferença é apenas auxiliar, não pode ser taxada de emagrecedora!

Marina, mas mesmo assim os nutricionistas continuam indicando vários alimentos milagrosos!

Se não vai prejudicar e a pessoa quer MUUUUUITO consumir determinado alimento, não vejo problema. Com suplemento é mais complicado, pois você está SUPLEMENTANDO algo que ela não necessita.

Mas eu acredito que a maioria dos profissionais continuam indicando os alimentos milagrosos por insegurança de debater a real necessidade com o cliente, ou até por preguiça de pesquisar. Quando você dá a alguém o que ela deseja, é uma verdadeira massagem no ego. E quem gosta de ser contrariado?

A questão é que quando você questiona se realmente aquilo é necessário, você não está contrariando: você está mostrando os fatos e dando a opção de escolha. Mas dá trabalho, porque tem que estudar e ter paciência para explicar tudo direitinho. E particularmente, eu acho essa parte a mais encantadora da ciência. Caso contrário, os profissionais da saúde se tornariam apenas fantoches de repetição, e não objetos de comunicação entre o científico e o leigo.

O que eu mais gosto na nutrição é a gama de possibilidades que temos, a diferença dos indivíduos, os objetivos e particularidades de cada um.

Por isso, façam o que o ET Bilú  mandou (lembram?): BUSQUEM CONHECIMENTO!

Até a próxima!