Eat Clean

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A obesidade é um problema atual, e tudo isso devido a uma somatória de fatores que inclui o alto consumo de alimentos industrializados: todos ricos em açúcar, sal, carboidratos refinados em geral e gordura hidrogenada. Então você quer comer um doce e não pode, porque o açúcar é um problema de saúde pública. Quer comer uma batatinha frita e não pode, porque ela é um verdadeiro veneno. Quer comer um negocinho no meio da tarde e precisa virar duas pra conseguir preparar algo ‘clean’. Porque temos que entrar na turma saudável e adotar o #eatclean pra nossa vida.  Se você fizer uma busca na hashtag #eatclean no instagram, vai ver diversos tipos de fotos, que vão desde maravilhosos pratos de salada, comidas orgânicas e frescas, alguns pratos de receitas fit (alguns nem tão lindos assim, hehehe), corpos malhados e fotos das transformações deles.

A ‘alimento do bem’ ou o #eatclean parece nos livrar de um erro alimentar. “Como o alimento é saudável, posso comer tranquilo, sem culpa”. Mas esse raciocínio faz justamente o contrário: reforça o fato de que existem alimentos ‘errados’ ou indevidos. Aí quando a gente resolve comer esses alimentos a gente sente tudo o que não era pra sentir: CULPA, muita culpa.

Aquilo que não é do bem é aquilo que comemos em segredo e comemos mais – e esse excesso acaba sendo o prejudicial. Nos sentimos fracos porque não conseguimos ter o bendito foco que um monte de gente insiste em exigir. Essa linguagem moralista do #eatclean acaba se transferindo para quem que está comendo, aumentando as chances de desenvolver sérios problemas alimentares, que podem começar com uma simples mudança de comportamento e terminar num grave transtorno alimentar.

E tem um jeito ótimo de disfarçar esse comportamento grave: colocar o equilíbrio no meio da briga.

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Existe um termo em inglês chamado ‘guilty pleasure’ que numa tradução literal seria um ‘prazer culpado’. Aquela coisa que você gosta e sente culpa. Todo mundo tem um!   Mas na alimentação o guilty pleasure deveria ser apenas pleasure. Ou então podemos optar comprar uma máquina do tempo e ir parar na Idade Média, onde sentir prazer era proibido e pecaminoso. 

Quando colocamos os alimentos (do bem e do mal) no mesmo patamar (o do prazer) conseguimos assumir o controle do consumo: estamos comendo porque é bom e não tem nada errado nisso - daí você tende a comer cada vez com mais consciência:, e não caímos naquele velho hábito de comer algo ‘errado’ e pensar ‘ah, agora já era, já estraguei tudo, vou continuar com esse exagero e depois eu penso’.

A idéia do Eat Clean também gera associações perigosas com nossos corpos. Quem nasceu antes dos anos 90 vai lembrar bem das propagandas lindas de Malboro: um por do sol, um cowboy magia e aquela cara de quem ia dominar o mundo, bem livre. O cigarro até pouquíssimo tempo atrás era um símbolo de status, glamour, empoderamento – e as propagandas colaboravam com isso.

Agora a gente nem precisa de outdoor, é só clicar na hashtag #eatclean e imaginar que comer ‘comida do bem’ vai deixar a gente com um corpo maravilhoso – como se isso também fosse o objeto central da nossa felicidade. Como se nos tornássemos seres superiores quando evitamos ‘porcarias’ ou ‘besteiras’, como se fôssemos power rangers e determinados alimentos fossem nossos inimigos.

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O que chamamos de ‘comida de verdade’ ou ‘real food’ pode também trazer essa conotação moralista, como se um produto industrializado fosse péssimo, horrível e a gente não pudesse comer nunca. Mas eu ainda prefiro esse termo para influenciar as pessoas a comerem mais alimentos in natura e menos industrializados – que é o verdadeiro equilíbrio.

Sou pro saúde e todo mundo que melhora a alimentação nota os impactos disso no humor, na disposição, no sono e na estética. Mas pra ter todas essa vantagens você não precisa virar um militante da causa natural: basta cozinhar mais, comer mais daquilo que você reconhece como comida e entender que os industrializados tem seu papel - em menor quantidade, mas tem. Esse é o verdadeiro equilíbrio!

Até a próxima!

Marina