Idade de Dieta

Na minha ‘pesquisa’ realizada semana passada, perguntei com quantos anos as pessoas haviam feito a primeira dieta - ou visitado, pela primeira vez, algum profissional que a recomendasse. Os resultados foram esses.

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No consultório percebemos que a história é realmente essa: crianças, cada vez mais novas, são submetidas a restrições alimentares. O peso de ‘ter que emagrecer’ - ou melhor, ‘ter que ficar magra(o)’ - começa muito cedo.

Entendemos que a obesidade infantil é um problema, e uma boa educação alimentar infantil é a base sólida para bons comportamentos tardios. Porém, creio que ainda há muito o que se trabalhar quando pensamos na forma de comunicar sobre o assunto.

Escuto muitas mulheres (principalmente) e homens falando que, desde cedo, tem lembranças de dieta muito novas, e, se não tem, as lembranças são sobre observar alguém próximo tentar emagrecer.

Outro dia conheci um menino de 12 anos, que está acima do peso*, sem atividade física regular e com exames alterados (triglicerídeos, colesterol e insulina). Sua alimentação tem como base alimentos industrializados e quantidades exageradas de bebidas açucaradas (refrigerante, sucos artificiais). Esse menino foi levado a um médico infantil que sugeriu que ele se engajasse em uma atividade física regular, perguntou como era a alimentação da família (conversou com os responsáveis), estabeleceu metas para o consumo das guloseimas e pediu para que a família entendesse que a perda de peso é sim, importante, mas que não reforçassem a idéia de que ser gordinho é ruim ou feio. Esse menino tem enfrentado dificuldades para beber menos refrigerantes, e a perda de peso em sido lenta. Mas não o vejo pressionado ou triste com o próprio corpo - se inscreveu nas aulas de natações e não se queixa de ficar de sunga perto dos outros colegas.

Uma outra menina, sobrinha de uma paciente, se viu numa história diferente. Ela já faz atividades físicas regulares: natação, 3x/semana e jazz, 2x/semana. Seus exames não estão alterados e sua alimentação é, em grande parte, muito boa. Mas é uma menina que, de acordo com o seu biotipo, nunca será uma criança ou adolescente ‘magrinha’. Com o corpo já em constante desenvolvimento, quando colocada ao lado das colegas, é vista como ‘fofinha’ ou ‘gordinha'. A mãe a proíbe de comer doces e, com frequência, sugere que ela deveria emagrecer. Foi a uma nutricionista que passou uma dieta ‘de gaveta’ (nome que damos para dietas prontas) e, atualmente, a mãe descobriu que a filha tem comido escondida (e consequentemente, ganhando peso). Frequentemente tem tentado cabular as aulas de natação, pois não se vê confortável de maiô perto das outras crianças.

Essas duas histórias demonstram bem como a comunicação sobre questões alimentares e físicas podem interferir de maneira diferente na saúde de cada um. E, se eu perguntar qual dessas crianças tem mais chances de criar dificuldades com a alimentação e com a saúde, a médio/longo prazo, o que você responderia?

Se você foi uma criança estimulada a ser magra a todo custo, não dá para entrar numa máquina do tempo e refazer esse processo. Mas dá para entender de onde vem aquela voz interna que sempre está te dizendo para 'comer menos’ ou ‘comer direito’. E isso é essencial para estabelecer uma boa relação com a comida e com o corpo.

Incentivar uma criança a ter uma alimentação boa e se preocupar com a saúde dela é muito importante, independente da idade. Aliás, não existe uma idade certa. E também não estou querendo dizer que devemos negligenciar os fatos: mas devemos entender melhor como lidar com eles. Devemos incentivar, e não pressionar.

E se você lembrou de uma infância cheia de regras alimentares - e hoje em dia sofre com sua relação com o alimento/corpo - procure ajuda (sobretudo terapêutica). Voltar no passado é impossível, mas reaprender as formas de lidar com isso é muito possível.

Até a próxima!

Marina