Nada melhor do que não fazer nada

Há pouco tempo escrevi aqui sobre organização. Depois disso, uma prima minha decidiu baixar o App Moment que indiquei no post.

Alguns dias depois ela me enviou um whatsapp dizendo que estava realmente chocada com o tempo que passou no celular. Para quem não sabe, esse app mede o tempo que você gasta no celular e dá ainda relatórios específicos: de quanto em quanto tempo você pega no seu telefone, quantos anos você vai gastar no telefone - de acordo com as médias atuais - entre outros.

É impressionante.

Num desses sábados chuvosos, eu estava sozinha em casa e decidi aproveitar para colocar a casa em ordem e organizar aquele monte de detalhes que a gente sempre deixa pra depois. E também para procrastinar um pouco. Foi uma espécie de 'retiro caseiro'. 

Coloquei minha vida em ordem, cozinhei, brinquei com a Juju (minha cachorrinha) e vez ou outra dava uma parada para checar no celular. Ao final do dia, deitei para acabar de assistir um pouco de netflix. Achei que era um dia que tinha ficado pouco no telefone.

Mas no dia seguinte, veio o susto. 7 horas gastas no celular. SETE HORAS. Desse tempo, 1 hora foi gasta com coisas realmente úteis. De resto, foi zapeando por aí.

Há uma semana atrás, fiquei totalmente sem 3G. Internet só no Wifi, e no caminho casa-consultório ou casa-compromissos, tive que reaprender a ver o tempo passar enquanto o trânsito fica parado. O que você faz enquanto está no taxi, no uber, no metrô ou no ônibus se não tem internet? Eu percebi que a maioria das pessoas está lá, conectada, sem parar.

Nesses dias, veio a surpresa: comparados com dias úteis de 3G funcionante, reduzi quase 50% do uso do celular.

Existe uma auto cobrança (esse termo existe?) não só do corpo perfeito, mas da alimentação perfeita. Eu sempre ouço “eu me alimento bem, mas ainda não é perfeito” ou "ah, minha alimentação não está ótima... melhorou um pouco, mas pode melhorar mais". Quando vou avaliar, a pessoa se alimenta super bem, só não consegue enxergar isso.

E porque será que nunca está bom?

Eu tenho uma teoria: desaprendemos a fazer nada. Quando antes a gente precisava lidar o com tédio, hoje em dia estamos nas redes sociais, vendo o feed cheio de conselhos alimentares e receitas incríveis.

Quando fazemos nada, podemos até nos questionar se algo está ruim ou bom, mas sem tanta referência, sem tanta informação ou comparação. Tirando que a gente perde muito tempo vendo mas pouco tempo fazendo. A maior queixa das pessoas : não tenho tempo para cozinhar. Mas temos tempo para observar outras pessoas cozinhando.

Eu acho super legal o exercício de parar de seguir fulano e ciclano que não acrescentam muito. Mas o exercício de ficar menos tempo no celular também é incrível. As vezes, até o mais bem intencionado dos perfis, em excesso, pode prejudicar!

E aí, vai tentar reaprender a não fazer nada?

A artista Yaoyao Ma Van As fez uma série de ilustrações sobre como é a vida de quem mora sozinho. E olha que interessante: vários veículos de comunicação nomearam a primeira gravura como "apreciar uma noite de luar" e a segunda como "ficar sem fazer nada". No instagram na autora, ela descreve a primeira gravura como "o último pedaço de sobremesa numa noite de verão", enquanto na segunda gravura ela agradece as mensagens que já recebeu.

Além de uma interpretação totalmente equivocada, a idéia de que ficar sem fazer nada é estar no celular é super forte!