Você ainda conta calorias?

Uma pergunta que sempre me fazem é: “como você trata seus pacientes sem contar calorias?”

Quando decidi fazer esse blog, eu escrevia em outro chamado Batata Frita Pode. Isso quer dizer que batata frita pode toda hora, a todo momento? Não. Mas esse nome simboliza muito: mostra que você pode sim, ser saudável e comer batata frita. Quando decidi ter o meu blog,  precisava de um nome que passasse um recado bem similar. Até que a Lígia minha amiga – Beijo Ligioca! – deu a idéia do Não Conto Calorias.

“Perfeito”, pensei. Primeiro porque, de fato, não sei o valor calórico de muitas coisas. Nós nutricionistas sabemos de uma maneira geral, que por exemplo, uma porção de frutas tem, aproximadamente, 70 kcal; e sabemos também quantas calorias tem em cada grama de determinado macronutriente (carboidrato, proteína, lipídio). Segundo porque calorias não são tudo na vida: não adianta comer pouca caloria e ter um gasto absurdo, seu corpo vai pifar. A regra 'emagrecemos se gastamos mais energia do que consumimos, engordamos se consumimos mais energia que gastamos' é verdadeira, mas nem por isso precisamos contar calorias de maneira frenética. Entender o nosso corpo e nossa relação com a alimentação é muito mais interessante e sustentável do que contar todas as calorias que entram pela nossa boca.

Para isso, precisamos de auto conhecimento, disciplina e organização. Minha mãe faz atividades físicas todos os dias, de segunda a quinta, há 30 anos. Tenho uma amiga que cozinha a própria comida há 12 anos, todos os dias. Nenhuma das duas deixa de comer uma pizza, beber um chopp, ou comer um brigadeiro. E provavelmente não tem nem noção de quantas calorias tem num copo de iogurte desnatado. Mas elas conhecem o do próprio corpo, lidam bem com a alimentação e com a atividade física e não precisam contar calorias.

A maior parte das pessoas que recebo no consultório precisam fazer mudanças na maneira de comer. Um exemplo é a queixa mais comum: aquela “fome do cão” que aparece a noite. Isso acontece, na maioria dos casos, por um desequilíbrio alimentar durante o dia. Nesse caso, em cima da rotina descrita pela pessoa, consigo fazer algumas alterações que já são suficientes para causar um emagrecimento saudável. Então eu não preciso contar calorias MESMO. Tenho uma noção, mas sei que mudanças pontuais que se encaixem aos bons hábitos já estabelecidos são suficientes.

Algumas pessoas já comem bem, não engordam, mas não perdem peso. Essas pessoas precisam, então, passar por uma bela avaliação física, avaliação da ingestão diária e um exame de calorimetria. O exame de calorimetria mede, de maneira bem aproximada, o gasto energético em repouso. Aí eu preciso calcular as calorias e nutrientes, ver se aquilo que a pessoa me descreveu está distante ou não do gasto energético, e de fato, alterar a alimentação baseada em números. Ou seja: aqui cabe modificar hábitos alimentares, mas sempre de olho nos valores calóricos. Geralmente essas pessoas estão com o metabolismo 'baixo' - ou seja, gastando pouca energia em repouso. Isso ocorre muuuuuuito com quem faz um monte de dieta restritiva e/ou é sedentário.

E existe o terceiro caso, que são os praticantes (nível médio/avançado) de atividade física. Esses, numa grande parte do tempo eu acabo contando calorias. Não porque quero, mas porque preciso calcular a ingestão proteica e energética, afim de melhorar o desempenho do indivíduo ou até sua conformação física, com objetivo de melhora no desempenho. Isso não inclui praticantes de academia como eu e você, mas sim pessoas que tem metas que vão além de saúde e estética.

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Independente do caso,  EU NÃO ESTIMULO A CONTAGEM DE CALORIAS. Inclusive, evito essa informação. Uso um plano alimentar como maneira de direcionar o tratamento, porque sinto que ainda é a maneira mais didática. Mas em alguns casos, nem faço essa bordagem. Para mim é muito mais importante a pessoa aprender a ouvir o próprio corpo, entender o que sacia mais ou menos, perceber que dá pra comer de tudo desde que em quantidade, e que nem sempre você vai ter aquela fome que o plano alimentar propõe (ou vai estar com mais fome, ou menos fome).

Essa coisa de dizer “seu plano alimentar tem x kcal, seu lanche tem y kcal e seu jantar tem z kcal” é um erro na minha opinião. Isso induz as pessoas a se alimentarem de números, e muitas vezes trocarem um alimento que tem mais calorias (porém mais benefícios) por um menos calórico com menos benefícios. É aquela velha comparação do copo de Coca-Cola e do Suco de Laranja: eles tem praticamente o mesmo valor calórico, mas são bebidas com valores nutricionais totalmente diferentes.

Por isso, se você ainda vive contando calorias, repense!

Entender e modificar a maneira de se alimentar, através de mudanças comportamentais é muito mais sustentável, divertido e benéfico do que contar quantos números você está comendo!

Beijos!