Você realmente se ama?

Talvez esse ano foi o que mais reparei o quanto as pessoas falam umas para as outras que a gente tem que ‘se amar mais’, ‘ter mais amor próprio’. E eu achava que sabia o que era isso, mas descobri que eu não sabia e muita gente não sabe!

É só dar um giro nas redes sociais para reparar a enxurrada de frases motivacionais, textões e por aí vai. Não muito longe desse ambiente, sempre notamos alguém aconselhando um amigo ou amiga “você precisa se valorizar!” ou “se cuide, se ame e seja feliz!!!!”, algum especialista discutindo a importância de se respeitar, ou algum livro de auto ajuda que prega a gratidão.

Outro dia ouvi alguém falando sobre alguma personalidade de internet: “é muito fácil falar de amor próprio tendo esse corpão, não precisando trabalhar, viajando, tirando fotos”. Gente, falar que está feliz o tempo todo, postar uma ou outra frase sobre se cuidar, se valorizar não necessariamente significa que aquela pessoa tem muito amor próprio! A maioria das pessoas associaram o amor próprio com uma imagem de pessoas sem problemas, sem limitações, sem dificuldades. Como se tudo fosse simples e fácil de resolver. “Basta se dar valor”, as pessoas dizem. Mas será que é assim?

E então refleti sobre o que é ‘se amar’, ‘se cuidar‘… E esse tal amor próprio? Me perguntei muito, e depois de pensar bastante, concluí que acredito ser algo bem distante do que todo mundo diz ser.

Quem estiver lendo esse texto, e for leitor do blog, já sabe que eu direi que amor próprio não depende da imagem corporal. Muitas vezes a vontade de melhorar a saúde e o corpo não são sinais de amor próprio. A saúde é colocada como prioridade, inicialmente, por uma questão de sobrevivência: sem saúde viver se torna mais arriscado do que o simples fato de estar vivo. E melhorar a estética é impulsionado mais por vaidade do que pelo amor próprio.

Problema nenhum em buscar saúde para sobreviver e beleza para alimentar o ego, hein gente? O problema está nas técnicas ‘milagrosas’ ou na preocupação exarcebada com a imagem. Quer melhorar? Ok! Mas seja a melhor versão de si mesma, e não a do outro, é o que costumo dizer.

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Porque não dá para ter amor próprio partindo de fora pra dentro: um corpo bonito e sarado não garante felicidade, plenitude e paz. Você pode gostar mais de se olhar no espelho, mas isso não garante a sensação única de tranquilidade. Estar satisfeita com o espelho pode garantir auto estima, mas não garante auto conhecimento. E amor próprio saber das suas inquietudes, insatisfações, limitações, defeitos e fraquezas – vai muito além da alegria de se sentir bela.

Quantas pessoas são e/ou se sentem lindas, mas não conseguem lidar com um pouco de solidão e seus próprios pensamentos?

Quantas pessoas são e/ou se sentem gostosas, mas não conseguem manter relações sólidas, sejam elas amorosas ou de amizade?

Quantas pessoas são e/ou tem uma auto estima elevadíssima, mas se sentem incompletas, angustiadas e ansiosas?

Amor próprio vem de dentro pra fora!

E isso não quer dizer estar feliz o tempo inteiro. Aconselhar a todos que se amem, que sorriam o tempo todo é fácil. Mas fazer o próximo sentir dessa maneira é bem difícil, afinal, o amor deve ser próprio, e não vindo do outro! O auto-amor é sentido, na pele… é sentir todas as emoções, sejam elas boas ou ruins. Afinal, nada mais natural do que ter raiva, tristeza, frustração e decepção. Se entregar ao medo, a tristeza e a frustrações as vezes faz bem pra caramba. Não estou fazendo um Ode a melancolia (até porque eu sou a própria Pollyana, tento ver pontos positivos em tudo!), mas desconfiem de pessoas que nunca se entregam, nem que seja um pouquinho. Ninguém tem obrigação de ficar bem o tempo inteiro… São justamente nesses momentos de fraqueza que gente cresce e fica forte, e são eles que tornam os momentos de alegria mais reais. E é aí que reside o amor próprio: na realidade.

Até porque felicidade é um estado de espírito, e não uma obrigação. E mais: quem precisa demonstrar que está ou é feliz e bem resolvido o tempo todo, geralmente não tem amor próprio de sobra, mas sim em falta. Eu já passei por esses momentos, e você também, então sabe do que eu estou falando.

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Ter amor próprio e se valorizar também não significa se colocar num altar imaginário, elevar sua auto estima, exaltar somente as qualidades. Significa saber o seu real papel no mundo, e o PORQUÊ você é importante. E acreditem: não é uma bunda dura, um rostinho bonito e um cabelo bem tratado que vai te transformar em alguém de mais valor. Buscar o auto entendimento, indo além da completude física ajuda muito mais a alcançar o amor próprio do que frisar as próprias qualidades, ou postar uma foto bem gata com uma frase de superação no instagram #nopainnogain.

A auto estima pode colaborar para o amor próprio. Algumas pessoas adotam posturas mais positivas depois de uma mudança estética, mas na maioria das vezes a transformação física se torna apenas um mísero detalhe no despertar do amor próprio.

Pode ser que depois daquela dieta, daquele exercício ou daquela cirurgia corretora você se sinta mais segura, mais realizada, mais feliz ao se olhar no espelho. Mas lembre-se que essa felicidade não é igual ao amor próprio! Amor próprio é ter e buscar auto conhecimento, e não somente ter e buscar auto estima. Amor próprio não é dizer que se ama e que é muito feliz pra Deus e o mundo, mas sim sentir esse amor e viver em paz, tendo consciência da sua realidade. Estar bem na própria companhia, sabe como? Sem precisar provar nada para si e nem para o outro.

Se dar valor e se amar não é repetir aos quatro ventos o mantra ‘eu sou mais eu’… É se sentir!

Assim como a felicidade, o amor próprio tem seus momentos. As vezes está mais latente, as vezes está mais evidente – não para os outros, mas para si própria. Não há necessidade de ser um poço de amor próprio o tempo inteiro, assim como realidade sem fantasia nenhuma é um saco. Equilíbrio é bom, e nosso emocional agradece.

Buscar isso tudo não é uma missão fácil. É um processo. É igual cultivar qualquer outro tipo de amor, é como cultivar jardim. Tem que regar, dia a dia, com paciência… entendendo tudo o que influencia o processo…

…até nascer a flor.

É preciso resiliência, paciência e observância. Talvez o seu impulso para o auto conhecimento venha numa tentativa frustrada de emagrecer, talvez venha depois de uma decepção amorosa, ou até depois de adquirir o corpo dos sonhos e continuar se sentindo incompleta. Não importa. O importante é buscar, eternamente.

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Conheço pessoas que correram atrás da estética desejada, alcançaram corpos maravilhosos, mas continuam se sentindo inseguras, infelizes e se submetendo a situações ultrajantes. Outras descobriram que são pessoas mais plenas e felizes com alguns quilinhos a mais, mas sem tanto ódio da comida! E algumas passaram pro verdadeiras metamorfoses emocionais durante o processo de emagrecimento: o que colaborou ainda mais para o emagrecimento. Tudo isso é auto conhecimento, chave essencial para o nosso famoso amor próprio.

Não existe uma regra, mas existe uma verdade: o amor próprio surge de dentro pra fora. E não queira explicar ou entender como é: só se sabe sentindo. Você que já passou por essa descoberta, deve estar balançando a cabeça, de cima pra baixo, pensando ‘realmente é isso!’.

E você que ainda não sentiu um amor próprio de verdade e está lendo esse texto: o seu dia vai chegar e você vai ver que plenitude e auto conhecimento não tem cara e nem coração, mas trazem a imagem de uma realidade tão bela, que nenhum espelho ou filtro do Instagram seriam capazes de mostrar.

Amor próprio é ser real, é sentir tudo de corpo e alma, é viver nossas emoções, quaisquer que sejam.

Até a próxima

Marina

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