Eat, girl!

Já faz um tempo que sou questionada sobre minha opinião sobre o mundo fitness, que fez um boom no mundo da internet nesse último ano. 

Tentei não opinar sobre o assunto. Primeiro porque, quem sou eu pra julgar? Trabalho com ciência, e sabemos que na ciência tudo é 'discutível' (não sei se existe essa palavra, mas vocês entenderam). E também porque acho que algumas coisas são tão pequenas e passageiras, que não vale perder o tempo que eu teria escrevendo algo muito mais útil (para mim e para vocês).

Mas ontem recebi um bombardeiro de mensagens, emails, whatsapps de amigas, leitoras, conhecidas e até parentes falando para eu ver o que estava acontecendo. Era um link compartilhado pela Shame on You, blogueira (uma figura da internet que comenta sobre as blogueiras de moda que se multiplicaram feito gremlins por aí). Esse link contava a história de uma blogueira do mundo fitness, a Gabriela Pugliesi, que tem mais 500 mil seguidores em seu instagram, e um blog nomeado tips4life

Pois bem, li o texto e troquei idéia com algumas pessoas, e pensei: porque não dar a minha opinião sobre o mundo fitness? Eu tentei me omitir pelos motivos supracitados, mas agora me veio a cabeça também opinar, e depois continuar com meus posts que realmente são o propósito do blog.

Quando surgiu esse mundo fitness na internet, achei graça. Afinal eram várias meninas 'bem nascidas', na grande maioria, falando de assuntos que toda mulher fala, desde que se conhece por gente: dieta, barrinha, exercício, etc. Algumas incentivavam a correr, outras a malhar, outras a fazer dieta. Até aí, ok, elas tiveram sua parcela benéfica de incentivar várias meninas a procurarem uma atividade física, do mesmo jeito que, láaaaaa nos primórdios, várias blogueiras de moda quebraram o paradigma das fast fashion e mostravam que é possível se vestir bem gastando pouco. 

Só que ser blogueira fitness virou um negócio, um cavalo sem rédeas. E claro, fabricantes viram nas meninas saradas, 'bem nascidas' e 'bem relacionadas' uma oportunidade de aumento de vendas. E as meninas fitness, por sua vez, viram uma oportunidade de fazer dinheiro. Afinal, todo mundo tem conta pra pagar. E tomou-se o mesmo caminho de várias blogueiras de moda: a publicidade velada. Ou seja, a pessoa faz o anúncio de um produto e não sinaliza que aquilo é uma propaganda. Fala que é dica de amiga, mas está ganhando para anunciar. Sinalizar uma propaganda é muito simples e pode ser por uma simples hashtag #ad.

A mulherada, louca por aquele corpo que está na tela do celular, vende até a alma para comprar o produto mostrado através da dica da blogueira, e por aí vai toda história. É quase um ciclo virtuoso. Todo mundo que trabalha ou já trabalhou (meu caso) com algum produto que necessitasse de divulgação sabe como a banda toca. Já estive em uma situação que vi um produto sendo enviado para uma dessas figuras da internet e não sendo divulgado porque não houve 'incentivo financeiro' para aparecer no instagram ou blog, nem como #dica. 

Bem, se as pessoas envolvidas nisso insistem em negar que não é propaganda velada já não é comigo... E não vim aqui discutir isso, acho que o link da Cronista Amadora já fez esse papel.

Mas eu vim discutir sobre o que acontece nas redes sociais fitness. São informações dadas de maneira totalmente generalizadas, o que é MUITO errado. Cada um é de uma maneira, e ao contrário do que várias pessoas pensam, não cabe ao leitor filtrar a informação, afinal, nem todo mundo tem o mínimo de conhecimento para isso. É papel de quem fornece o conhecimento filtrar o impacto daquela informação. Além de influenciarem uma geração a acreditar em produto milagroso - com ajuda da legislação, que não colabora também - as fitgirls

também dão aquele empurrãozinho que faltava para que todo mundo pense que nunca está bem o suficiente com seu corpo.

Uma coisa é indicar um produto que você achou legal, fazer uma resenha, mostrar os lados positivos e negativos (porque tudo na vida tem dois lados) e deixar o seu leitor resolver se é bom ou não para ele, e claro, incentivar a busca de um profissional responsável, porque internet nenhuma substitui o papel de um bom médico ou nutricionista.

Outro fator que me deixa boquiaberta, e acho que todos que lêem meu blog já notaram, é a fixação pelo corpo, pela bunda, pela barriga. "Ah, mas elas fazem isso pra ser engraçado". Realmente eu acho muita graça e entendo que talvez a falta de critério técnico e conhecimento façam disso o assunto central. Mas tem gente que realmente acha que uma bunda dura vale mais do que muitos valores por aí! E a geração de bunda dura e cérebro mole só aumenta, o que é triste e vergonhoso.

Está todo mundo com uma auto estima tão baixa, que o que mais se faz nas redes sociais das fitgirls, é atingir os críticos com pedras e frases desse tipo " gente que se corrói de inveja por ter aquela pança mole que cai pra fora da calça, aquele emprego azedo que toma 10hs todos os dias da semana, aquele cabelo estilo palha de aço por falta de vitaminas, aquele marido gordo e que só da cornos" "isso é puro recalque, aposto que tem a bunda mole" "como existem pessoas invejosas! você é musa deusa magra". (todas as frases foram retiradas das redes socias das fitgirls).

Ou seja, classifica-se alguém pela firmeza da bunda, ou quantidade de números antes da sigla kg. 

E o que mais me 'admira' é a participação e apoio de vários profissionais da saúde nesse tipo de atitude. Sabemos que desde que os nutricionistas começaram a existir existe esse tipo de conduta... mas não é muito melhor lutar pelo que é certo do que cair no comodismo e falar 'ah, sempre foi assim, deixa pra lá'? Procuro lutar contra essa corrente acomodada tendo cuidado com as informações que passo,e cuidando dos meus clientes com o maior carinho. Cada um faz o que acha melhor. Eu amo minha profissão, e acho que é super justo defendê-la. Quanto a questão de ética, eu prefiro nem comentar, pois cada um tem uma conduta, um caráter. E parafraseando uma das 'musas', colhemos o que plantamos.

Quando comecei a escrever meu primeiro blog, com outros nutris (o batatafritapode) sempre desejamos passar uma mensagem ampla aos leitores, porque na época eram informações de capa de revista e televisão que viviam confundindo a cabeça dos pacientes. Quando vim seguir meu caminho sozinha, e resolvi criar o não conto calorias, procurei seguir a mesma linha de pensamento. E claro, deixar o espaço aberto para discussões saudáveis, opiniões, críticas, elogios.... E o blog não deixa de ser uma maneira de manifestar minha linha de trabalho, e de dar oportunidade de todo mundo escutar a opinião de alguém que de fato estuda, conhece e entende o papel da nutrição para a sociedade, para depois escolher o que é melhor para cada um.

Emagrecer é super legal, eu curto muito melhorar meu corpo a cada dia, descobrir alimentos saudáveis., tentar diminuir as malditas celulites... Mas bacana mesmo é fazer tudo com muito equilíbrio, sem passar as prioridades físicas na frente das prioridades mentais, os valores materiais dos realmente importantes, sem esquecer que somos um corpo que vai muito além da quantidade de músculos ou de gordura.

Se você souber aproveitar o possível incentivo que a parte fitness da internet dá para que você vá a academia e fique com o bumbum duro (pois, na minha humilde opinião, é a única ajuda dada) e procurar um bom profissional para equilibrar seus anseios com sua saúde, ótimo! 

E é por isso que sei que vários nutricionistas não se sentem ameaçados por esse tipo de comportamento fit (eu pelo menos não me sinto), porque tem espaço pra todo mundo! Uns falam mais de futilidade, de dieta da capa de revista, de produtos milagrosos, e continuam ganhando fanatismo. Outros falam do que aprenderam com o estudo, dedicação e prática, e ganham a admiração!

E agora, dada minha opinião, é hora de voltar a programação normal e voltar a falar de saúde. E claro, lembrar que nenhuma informação substitui um bom profissional de saúde!

E meninas... sorrir e ter auto estima é sempre o melhor remédio! Eat, girl!

#Eatgirl e #naocontocalorias

Beijos,

Marina

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