Restrição não é privação
Essa semana recebi um comentário (na verdade uma pergunta), que as vezes recebo:
(...) Minha grande dúvida sobre "não fazer dieta" ou "ter equilíbrio", sem se privar do que gosta (idéia que eu adoro e apoio) é se isso funciona pra quem quer emagrecer sem necessariamente ter problemas de saúde relacionados ao peso, etc. Ou seja, se ela é compatível com a estética também, porque acho difícil uma pessoa com pouco sobrepeso (apenas alguns quilinhos) conseguir perdê-los sem ter uma restrição maior.
O que eu chamo de 'não fazer dieta' é não seguir um modelo restritivo (leia-se privativo) de alimentação. Do tipo: você pode comer TUDO em quantidade - ou seja, você restringe quantidade, mas não se pune ou priva deixando de comer certos tipos de alimentos ou grupos alimentares.
As dietas (no quesito 'isso pode, isso não pode') são maneiras superficiais de perda de peso, e acabam gerando algum tipo de má relação com a comida: seja uma simples culpa até um grave transtorno. Não poder comer isso ou aquilo é antigo e falho. Imagine que você adora chocolate, e se dispõe a não comê-lo por um determinado período. Se você for um chocólatra assumido, vai sofrer, vai ficar estressadíssimo, vai acabar compensando em outros alimentos - e quando acabar o seu período de privação, corre um sério risco de ultrapassar todos os limites aceitáveis e desejáveis.
Como Louise Foxcroft descreveu no seu livro 'A tirania das dietas', fazer dieta nos leva a comer mais. Isso porque geralmente nos privamos do que mais gostamos (e por isso acabamos comendo mais). Mas quando viramos a chave e cedemos a tentações, acabamos comendo quantidades bem maiores do que aquelas pessoas que não são privadas. Esse tipo de privação é quase uma punição.
Se você tem a consciência de que come demais determinado alimento (ou grupo alimentar), porque não diminuir quantidades? Já é um grande passo! "Ahhhh Marina, mas seu começo a comer, eu não paro'.
Então vamos descobrir o porque isso acontece, e aprender a trabalhar com os fatores. Mas uma coisa eu deixo certa: não vai ser a dieta que vai te ensinar a lidar com isso. Costumo dizer que somos capazes de tantas coisas, como ler, escrever, trabalhar, dirigir, porque não seríamos capazes de lidar com nossos hábitos alimentares?
"Troque a fritura diária por um alimento assado" - frase típica das dietas - ficaria melhor escrita da seguinte maneira: "prefira o alimento assado ao frito". Isso não quer dizer que a fritura é ruim e o assado é bom. Isso quer dizer que fritura TODO DIA pode ser um problema para sua perda de peso, mas o pastel da feira de sexta jamais te matará ou fará você recuperar todos os quilos perdidos. Muito menos que aquilo ali vai entupir suas artérias ou te encher de celulite. Independente de qual é o seu temor, o problema é quando a exceção e o eventual viram regras.
Coma com prazer, sem perder o encanto de viver! (rimou!)
Quem precisa perder muito peso, deve partir antes para uma percepção dos seus hábitos alimentares, ao contrário de se privar. Essa privação funciona por um tempo - afinal, ela gera um déficit calórico - mas logo cessa. Primeiro porque grandes privações nos limitam muito, acabamos sempre comendo algo. Segundo porque convivemos em sociedade... você não pode cobrar que o aniversariante sentado na mesa ao lado não compre bolo de chocolate porque você está 1 ano sem comer açúcar! Terceiro porque a privação grande geralmente vem acompanhada de um consumo calórico muito, muito, muito reduzido, o que acaba atrapalhando todo o nosso metabolismo, e a longo prazo, dificultando a perda de peso.
Quem precisa perder peso por questões meramente estéticas precisa, antes de tudo, pensar nos seguintes pontos:
- Peso é relativo. Já escrevi sobre isso nesse post aqui. Mas trocando em miúdos isso quer dizer que peso na balança (principalmente para poucos kg) é subjetivo! Você pode ganhar massa e perder gordura - e consequentemente emagrecer esteticamente - sem mexer no ponteiro da balança.
- entender que muitas vezes julgamos nosso consumo/gasto adequados, mas ainda assim eles podem ser otimizados.
- entender que não faz sentido se restringir por algumas semanas (ou meses) para perder só alguns quilinhos mas depois voltar a alimentação normal... Junto com ela, os quilinhos voltam!
Quem quer perder apenas alguns quilinhos talvez já tenha um consumo reduzido e um gasto calórico alto, e/ou uma genética/idade favorecedora. É pouco provável que alguém tenha um peso saudável comendo bem mais do que se gasta. E por isso, se você já é magra/magro e quer perder pouco peso e se alimenta de maneira equilibrada, talvez esteja se perguntando se não é o caso de fazer uma dieta. Então é hora de pensar se realmente o 'peso' que você julga ideal é realmente interessante e se realmente o seu consumo está tão adequado assim. Por isso, NADA MELHOR que procurar um profissional da nutrição para te ajudar.
Concluindo: quando eu falo que 'dieta não funciona', não me refiro a ajustes alimentares que podem e devem ser feitos para qualquer tipo de tratamento que dependa da alimentação, mas sim a privação e punição - que é o que a maioria das dietas oferece.
Espero que tenham gostado!
Beijos!