A doce infância de São Cosme e Damião
Dia 26 de setembro (para os católicos) é dia de São Cosme e Damião. No dia 27, comemoram os Candomblecistas ou Umbandistas. Eles são protetores dos gêmeos e das crianças e muitas histórias justificam o ato tradicional de distribuir doces para as crianças nesses dias. Saquinhos recheados de balas, doces e pirulitos são distribuídos por quem é religioso ou devoto dessas duas imagens.
Não é no Brasil inteiro que essa prática é comum. Quando eu era criança, em Barbacena, no interior de MG, lembro de ter ganhado algumas balas em dia de São Cosme e Damião. No Rio de Janeiro também sei que existe esse costume.
Semana passada eu recebi uma mensagem que mostrava como montar um “saquinho saudável de São Cosme e Damião”. Era uma sugestão para trocar todas as balas e quitutes típicos da época por: biscoito de arroz, pipoca de canjica, chocolate 70%, castanhas, barra de cereal, balas de algas marinhas, pipoca e frutas secas.
O saquinho de cosme e damião faz parte de uma simbologia, é cultura. Não é um saco cheio de balas ricas em açúcar e corantes, que podem fortalecer a obesidade infantil - afinal, um saquinho de balas não tem o poder disso. Aquele objeto, entregue as crianças brasileiras - assim como as americanas recebem doces no Halloween - conta uma história, tem um significado para quem dá e para quem recebe.
Os saquinhos de Cosme e Damião ou os brigadeiros do aniversário não são a grande causa da obesidade infantil, mas o terrorismo em cima de alimentos tão simbólicos são a causa para a péssima relação com a comida que crianças e adultos estão desenvolvendo.
Entender que comida vai muito além de nutrientes é essencial para uma boa saúde. Não comemos O QUE, mas também COMO, ONDE, QUANDO, COM QUEM e PORQUE. Não faz sentido querer que seu filho coma maçã no aniversário: é ali que ele tem que entender que coxinha e brigadeiro são verdadeiras delícias, mas que, de maneira geral, tem hora e lugar.
Fonte: pinterest
Quando limitamos e aterrorizamos qualquer criança (ou adulto) com saquinhos sem graça de Cosme e Damião, estamos ensinando a classificar os alimentos em bons ou maus, dando abertura para que fantasiem o proibido, que, vocês sabem, é sempre muito mais gostoso - sobretudo se feito escondido. Isso sem dizer que muitos desses alimentos são pouco nutritivos e ricos no temido açúcar evitado pelo ‘saquinho saudável'.
Enquanto insistirmos em oferecer biscoito de arroz e bala de alga marinha no lugar de caramelo ou pirulito que bate bate, fortaleceremos o terrorismo nutricional que faz com que uma criança devore uma caixa de bombons ou uma mesa de brigadeiro em poucos minutos.
Atitude saudável é ensinar que todo alimento é saudável dentro de um contexto específico. O saquinho de Cosme e Damião é só uma embalagem com algumas delícias contadoras de histórias.
Leitura sugerida: o trabalho desse fotógrafo: ele clicou crianças de diversas nacionalidades e o que consomem do dia a dia - http://time.com/what-kids-eat-around-the-world-in-one-week/





