A cultura do mimimi

Quem me acompanha no blog sabe que em 2015 entrei no mundo das corridas. Apesar de ser uma pessoa relativamente ativa (faço várias coisas a pé, de bike, de transporte público), eu nunca fui ligada nos esportes. Só que vivi a experiência da corrida e mesmo com toda a preguiça do mundo, não consigo deixá-la de lado. Eu sei como é a sensação de uma noite de sono após uma manhã de treino, como a minha concentração e disposição melhoram e o papel meditativo que a corrida exerce sobre mim. Isso me faz sempre querer ficar ou voltar.

Em julho do ano passado percorri 21km que jamais imaginei percorrer, e depois, como de costume, dei uma afastada dos treinos. Pela segunda vez faço isso: paro após uma prova importante. No final de 2015 e começo de 2016 também parei, após completar a volta da Pampulha. Mas dessa vez, voltar está sendo diferente

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Da primeira vez eu fiquei nervosa porque quando voltei a correr não dava conta de completar nem 3 km. Meu corpo doía, minha respiração falhava, e eu ia ficando mais cansada e nervosa. Eu queria voltar com tudo, impaciente e arrependida. Logo eu, que vivo orientando as pessoas a serem pacientes e resilientes. Eu pensava muito naquela

cultura do 'no pain, no gain' ou, como eu gosto de chamar, na 'cultura do mimimi'.

Eu não podia ficar de mimimi ou de preguiça. Eu tinha que simplesmente fazer, doa o que (ou quem) doer.

Mas dessa vez está sendo um pouco diferente.

Eu resolvi assumir minha fraqueza

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Eu posso amar a corrida, mas se eu tiver que abrir mão de alguma coisa porque não tô dando conta de fazer tudo que preciso,vou abrir mão da atividade física - por melhor que ela possa ser para mim.

Meu segundo semestre de 2016 foi maravilhoso: eu mudei de casa, mudei de consultório e agora tenho a cachorrinha mais linda do mundo. Minhas prioridades eram outras, e mesmo sabendo que a corrida ia ser só melhor para mim, não encanei.

Fui correndo quando dava, e quando estava realmente afim.

Hoje decidi voltar a correr com mais frequência e consegui correr pouquíssimo. Mas dessa vez, ao contrário da última, não fiquei chateada!

Pensei que é isso aí: logo logo eu tô de volta correndo como sempre - ou como nunca

Durante os 2km pensei sobre essa cultura do mimimi. A gente se sente muito pressionado a querer sempre ter disposição, a não ter fraquezas, a fazer sempre o melhor. É um tal de 'seja maior que a sua maior desculpa' que chega a irritar.

Concordo que quando queremos modificar algo, não podemos sentar e ficar com o famoso mimimi no sofá esperando a solução milagrosa. Mas isso não tem nada a ver com assumir nossas fraquezas.

Tem gente que sofre pra fazer exercício, mas tem um objetivo maior e acaba arrumando uma solução pra deixar esse ato mais prazeroso - apesar de, em alguns dias, simplesmente chutar o balde e se entregar ao endredom.  Algumas pessoas amam comer deliberadamente, mas tem um objetivo maior é tão prazeroso quanto, que decidem se entregar para a reeducação alimentar - apesar de, em vários momentos, se renderem a delicia que é comer um bolo de chocolate.

Você não é fraco, bunda mole ou está com a vida perdida se não tem o pique do seu amigo, blogueira ou parente.

E se for preguiçoso, tudo bem. Aceite sua condição e veja o que pode fazer para melhorá-la (ou aprender a lidar com ela)

A cultura do mimimi nos faz achar que nosso esforço nunca está bom o suficiente. Se você é sedentário, ou se parou um tempo com os treinos, pensa que recomeçar indo somente 20 minutos pro dia não adianta - e acaba não indo nunca. Se você quer emagrecer mas não segue uma alimentação lowcarb-glutenfree-lacfree-orgânica-integral-sugarfree, pensa não está fazendo o suficiente - e jamais emplaca uma mudança de hábitos.

Eu estou aprendendo dia após dia com as minhas vulnerabilidades e fraquezas. E vejo que isso é maravilhoso,

me torna mais humana e mais dona de mim

. Começar, retomar e continuar pode ser ruim, doer, deixar a gente bem puto da vida. Mas garanto para vocês que o aprendizado vale cada momento de raiva que a gente passa.

Alguém já aprendeu com algum mimimi?

Beijos e até a próxima!

 Marina

(as imagens foram retiradas do google imagens/pinterest)