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Muito se fala sobre a manipulação de imagens nas campanhas publicitárias. Uma recente lei francesa determinou a colocação de um 'alerta' nas fotos publicitárias que passaram por retoques do photoshop.
No instagram, vitrine cada vez mais usada pelas marcas, influenciadoras e atrizes, é um show de facetune: o aplicativo atenua rugas, celulites, estrias, dobrinhas e qualquer outra característica habitual de um corpo feminino.
Essas imagens, de campanhas ou de instagram, prejudicam muito a auto imagem de quem consome esse tipo de informação. A comparação nos pega mesmo sem a gente perceber, afinal, é quase que geral o fato de uma mulher querer uma bunda sem celulite - não deveria ser assim, mas ainda é.
No meu ponto de vista existe algo mais venenoso que ver uma bunda sem celulite: é assistir a uma vida sem estrias.
Conversando com uma amiga esses dias, ela reclamava muito da sua vida profissional. Nutricionista como eu, se queixou da agenda, da grana, dos pacientes, da secretária, do mundo, até que disse: "queria ser uma nutricionista igual a fulana de tal. Vive com a agenda cheia, tá ganhando a grana que ela queria, gosta do que faz, blá blá blá'. Acabamos a conversa e fiquei pensando sobre a fulana de tal e sobre a minha amiga: o que elas poderiam estar fazendo de tão diferente para uma ter sucesso e a outra não?
Até que percebi que o problema não está no que elas fazem ou no sucesso de ambas. O problema está na idéia de vida que minha amiga tem da fulana, tudo baseado no instagram dela. O que minha amiga não vê é que ela tem outros pontos da vida que estão super bacanas: o relacionamento com os pais, a maternidade, o namorado novo; ao passo que a fulana de tal vive reclamando dos seus relacionamentos frustrados e das constantes brigas com a mãe.
Eu já fui daquelas que seguia até o cachorro da it-girl do momento, até que percebi que aquilo só me causava angústia. Por mais que eu soubesse que nós somos totalmente diferentes, eu constantemente estava focando no sucesso daquele lifestyle diferente do meu ao invés de perceber a minha própria vida. Até que notei que não fazia sentido eu seguir todas aquelas pessoas, porque não só tínhamos estilos de vida diferentes como também prioridades e objetivos diferentes.
Olhamos sob o filtro do instagram, num black mirror sem fim, onde você conclui sobre a vida da pessoa através de uma foto ou alguns segundos de stories. Mas a verdade nua e crua quase ninguém mostra.
A foto linda do café da manhã que eu adoro postar aos sábados está lá, mas do outro lado existe uma pia cheia de louça pra lavar. A blogueira está plena com aquela montação maravilhosa, mas ela não precisa passar 9 horas sentada na frente do computador ouvindo seu chefe chato. Sua amiga médica está arrasando nas férias de 21 dias na Tailândia mas virou várias madrugadas em claro no hospital público sem recursos. As vezes aquela bolsa bacana, o corpo bacana e a viagem bacana é só o que a pessoa tem.
Desejar o corpo do outro já causa feridas, imagine se você também quiser a vida que aquele corpo vive? Literalmente, só nascendo de novo e dando a sorte (ou azar?) de vir naquela situação. Entenda: todas as pessoas tem lindos atributos, detestáveis defeitos e irreparáveis características. Somos diferentes.
E a diferença é a realidade de nosso mundo* .
Até a próxima,
Marina
*Para educar crianças feministas, de Chimamanda Ngozi Adichi