Bons e velhos hábitos

- De volta ao blog, aos posts e a relação entre corrida e hábitos alimentares! -

Ano passado, quando terminei a Pampulha estava super feliz de ter conseguido esse feito. Uma pessoa que em janeiro de 2015 não dava uma volta no Ibirapuera correndo havia conseguido terminar 18km numa boa, correndo sem parar, e completando o circuito sem danos maiores que o cansaço esperado após uma prova.

E assim que acabou eu resolvi tirar umas 'férias'. Entre a Pampulha e a primeira semana de janeiro, peguei leve na corrida. Não fui em todos os treinos porque aproveitei para dormir mais tarde nas terças e quintas (são os dias que antecedem meus treinos), sair com minhas amigas durante a semana... desconectar um pouco da função, sabem? Perder um pouco da disciplina. Não deixei de lado, mas dei uma reduzida boa.

Depois de janeiro já veio o Carnaval, e vocês já sabem: o ano só começa mesmo depois da festança. Me prometi que depois eu ia voltar com gás total e cumprir os dois objetivos do ano: duas meias maratonas (uma de montanha, e uma de asfalto).

E quando finalmente eu estava pronta para recomeçar, apareceram dois obstáculos no meio do caminho: me despedi de uma pessoa ultra querida e peguei uma gripe/bronquite daquelas, que derruba qualquer pessoa. Ou seja: mais umas 3 semanas sem treinar. No final foram praticamente 3 meses de pura enrolação, mas chegou a hora de voltar.

Talvez você que vive fazendo as promessas de 'segunda feira eu começo a dieta' já tenha se visto na situação 'eu preciso voltar'. Mas se você 'precisa' retomar seu ritmo é porque você não incorporou novos hábitos, apenas se sente na obrigação. E aí, más notícias: a chance de você deixar tudo de lado novamente é grande.

Mas se você quer voltar porque sente falta, sente saudades daquele tempo, sente VONTADE daquilo, é porque já incorporou os novos hábitos - e talvez só tenha se perdido no meio do caminho por alguma razão.

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Essa frase se aplica muito para quem faz dieta.

[Chamo de dieta tudo aquilo que está relacionado a privações extremas que causam muito mais sacrifício do que esforço, não despertam nenhuma consciência alimentar e só tem de prazeroso o saldo final e temporário da balança].

Quem não gosta de recomeçar é quem passou por algum processo que foi mais árduo do que o normal. Reeducação alimentar não é a oitava maravilha do mundo, muito menos sair do sedentarismo... Mas se feitas respeitando seus objetivos, medos e anseios, e quando de fatos geram mudanças que vão além da estética, o processo é lembrado muito mais de maneira prazerosa do que dolorosa.

E o que faz a gente começar ou recomeçar?

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Quando comecei a correr eu detestava atividades físicas. Morria de preguiça! Não entendia como as pessoas eram capazes de deixar a preguiça de lado - sobretudo aos finais de semana. Mas vi que meu corpo estava pedindo um movimento, me sentia um estranho no ninho quando estava no meio de tanta gente fisicamente ativa e não via nenhuma coerência em incentivar as pessoas a se exercitarem quando eu mesma não entendi as reais dificuldades desse processo - esse foi o gatilho. Mas a cada treino - rotina/ação - que eu terminava com aquela sensação de 'dever cumprido', a cada avanço na corrida, a cada melhora no meu corpo - recompensa - eu queria mais - novo gatilho, novo hábito. 

Gatilho da formação do novo hábito - insatisfação: mudança no meu estilo de vida, saúde, forma física + recompensa: bem-estar pós treino e no dia a dia

Foi como eu incorporei a corrida na minha vida: criando um hábito, observando a recompensa e me esforçando na ação

Apesar de ser uma pessoa super intensa, o extremo não me deixa confortável. Em certa época do ano passado, minha vida se baseou em acordar, fazer um esporte, trabalhar e dormir. Até nos finais de semana preferi ficar mais recolhida, sem muita bagunça. Queria estar sempre disposta e pronta pra correr. Foi uma época que eu precisava viver aquilo, mas de fato essa função da vida em torno do esporte começou a me atrapalhar. Aquela pessoa que se afastava de um prazer em prol de outro não era a Marina. Eu não quero ser atleta e muito menos ter o esporte como plano central da minha vid.  Isso requer uma dedicação e disciplina que eu admiro muito, mas que não me pertencem.

E então vi que precisava encontrar meu equilíbrio entre vida social com os esportes. Quando consegui foi uma fase maravilhosa! que em um momento abria mão de uma situação social para treinar  -e treinava feliz! -  e em outra não ia correr no sábado para dormir mais tarde na sexta feira - mas compensava no domingo, por exemplo. Nessa época eu estava me senti plena e capaz, justamente por conseguir fazer tudo que eu gosto. Consegui me organizar, e isso me realizou também!

E foi pensando nessas sensações que vivi, fiquei com uma saudade louca de voltar aquela época.

E assim eu vou 'recomeçar': lembrando da rotina

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Sinto saudades da sensação de plenitude que a corrida me traz. Correr me deixou mais responsável com a alimentação, me deu mais consciência corporal, me deixou menos ansiosa, e me ajudou a canalizar toda a energia que existe dentro de mim. Se antes do esporte eu descontava todo esse pique e vontade de viver na minha vida social - o que me fez sair contrariada, várias vezes, só pra não ficar em casa - depois da corrida eu me sinto mais a vontade para analisar se vale curtir a night ou se dormir bem pra correr no dia seguinte não vai me trazer mais alegria.

Eu senti saudades do poder da escolha. Correr me empoderou. Me ajudou até a estabelecer uma rotina: como não tenho horários certos de trabalho - posso começar as 08:00 ou as 12:00, tudo vai depender da agenda - a corrida me obriga a acordar cedo e iniciar meu dia sem procrastinação.

E é dessa maneira que consigo observar que mesmo ficando na marcha lenta por um tempo, eu incorporei o esporte na minha vida. Eu penso na corrida muito não pela ação propriamente dita, mas sim pelo hábito na sua totalidade: gatilho, ação e recompensa. Se eu fosse lembrar do ato de correr, talvez não sinta taaaaaanta saudade. Afinal, tenho dias ótimos de treino, mas outros dias eu quero ficar dormindo, ou fugir da professora e ir embora.

O mesmo acontece com a reeducação alimentar: se você incorpora uma mudança na sua vida e realmente sente os benefícios dela, provavelmente não vai perder essa lembrança. Em algum momento da vida você pode até perder um pouco do ritmo, mas sempre terá aquela vontade latente de voltar motivada pela lembrança de como sua disposição era outra, como seu intestino funcionava como um relógio e como sua relação com o espelho havia melhorado quando estava se alimentando bem.

Ao contrário de dietas, que você só lembra do sacrifício de não poder comer nada e do mau humor causado pela restrição de nutrientes e calorias. Você lembra que perdeu um monte de peso, mas lembra de ir dormir com a fome do cão só pra não comer mais, dos eventos que negou com medo da comida que teria lá, e da velocidade que seu corpo recuperou o peso assim que você parou dieta.

E além de lembrar do hábito, lembrar do nosso objetivo também é importante para não perder o ritmo. No meu caso com a corrida, por ex: se eu não tivesse enrolado tanto pra voltar, já estaria fazendo uma meia maratona esse mês. O mesmo acontece para a reeducação alimentar atrelada a perda de peso: se você não perder tanto o ritmo, chega no objetivo mais rápido. E se perdeu o ritmo pode ser influenciado a retomar pensando 'se eu não tivesse enrolado tanto, já tinha chegado no ponto tal!'.

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E quando deixamos o hábito de lado?

Por diversas razões, muitas vezes quebramos essa rotina. Costumo dizer que não esquecemos o hábito, nós o colocamos para dormir. A vida nem sempre é justa e perfeita:existem momentos totalmente desanimadores e desafiadores nos quais a gente deixa de lado a tarefa de prestar atenção na alimentação e a preguiça não deixa o corpo se movimentar.

Obstáculos irão aparecer e influenciar: pessoas vão partir, o trabalho ficará mais estressante, você vai brigar com amigos e parceiros, seu chefe vai pegar no seu pé, sua mãe vai brigar com você, um amigo querido vai adoecer - ou até você mesmo vai! ... Não existe vida perfeita e em alguns momentos - até por motivos nada aparentes ou óbvios - a gente desanima. E desanimar não é 'falta de vergonha na cara' ou 'falta de foco', como algumas pessoas insistem em dizer: Desanimar de vez em quando tem outro nome: vida real.

Tem gente que não perde as estribeiras e vê no esporte uma possibilidade de canalizar todo o stress ou reenergizar durante épocas conturbadas. Eu não sou essa pessoa! Me deixo levar pela preguiça, e minha maneira de me reenergizar é respeitando meus momentos. Hoje eu faço isso sem encanar tanto, porque sei que a vontade de voltar vai bater na minha porta.

Dessa vez eu tive minhas razões para desacelerar na corrida. 50% foram razões escolhidas por mim, e outros 50% simplesmente aconteceram. Por um lado quis aproveitar tudo que o carnaval tinha para oferecer e descansar um pouco logo depois da Pampulha. Por outro lado tive que lidar com fatores que não estão sob o meu controle, e que me colocaram um pouco em segundo plano para poder cuidar mais de pessoas e coisas que precisavam do que de mim mesma.

E agora vou retomar a corrida com meus objetivos e a lembrança de uma época tão boa quantos os resultados que ela me proporcionou.

Se você está aí pensando se volta ou não na nutricionista para retomar sua alimentação, ou se volta a praticar algum esporte, espero que isso tenha servido de incentivo! E se você ainda não começou, comece!

Como diz a música de Mick Jagger: 'Old habits die hard, hard enough to feel the pain'

Beijos, até a próxima!