Eu como pela oferta!

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Numa consulta, conversando com uma paciente, esse era o diálogo:

“-Você tem sentido fome entre o café da manhã e o almoço?

- Eu como uma fruta!

- Mas você sente fome para comer a fruta? Ou sente vontade?

- Não! Eu como pela oferta!”

Esse é um caso clássico de comer sem fome e sem vontade, somente porque a comida está ali no ambiente. E vejo isso acontecer com uma certa frequência em ambientes corporativos. Quem aqui nunca se pegou aceitando algum lanche do amigo de trabalho somente porque ele ofereceu - na ausência de fome ou de desejo de comer algo?

Quando se trata de alimentos ‘permitidos’, ou que tem uma carra de ‘saudável’ isso passa mais desapercebido ainda. No caso dessa paciente, não era a bolachinha ou o chocolate: era a fruta que fica num cesto do escritório. E aí vem aquele pensamento de ‘fruta pode, fruta é saudável’. Mas e aí? Será que comer sem ter fome ou vontade, mesmo algo tão bom pro corpo, realmente faz sentido?

Eu sempre faço a seguinte observação: banana é saudável, mas experimente comer um cacho. Excessos sempre serão excessos, e por mais que você me diga que ‘uma fruta a mais não vai fazer mal’ (e não vai mesmo), entende que essa escolha está além das razões básicas para procurarmos um alimento?

Respeitar fome e saciedade aplica-se para todo tipo de alimento, não só para aqueles que julgamos ‘inadequados'.

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É também muito importante entender que o contato visual com a comida é um dificultador para as nossas escolhas. Quem nunca estava se sentindo saciado (e satisfeito) e, ao passar na frente de uma confeitaria, se viu babando na frente de um pedaço de torta? Ou ao cruzar o hall do shopping, mesmo sem pensar em comida, teve uma vontade ardente de comer aquelas Bavarian Nuts, que impregnam seu cheiro até a última célula do nosso epitélio olfativo?

Mas e então, como lidar? Num ambiente corporativo, o hábito de disponibilizar snacks, frutas ou carrinhos com várias opções está cada vez mais comum. Pode ser uma ótima saída para quem esquece aquele lanchinho da tarde, mas também uma tentação para quem ainda não consegue dizer não.

Algumas idéias ou exercícios podem se aplicar nesse caso. Mas lembre-se sempre de conversar com sua nutricionista!

  • Levar lanchinhos é sempre uma boa idéia. Mas é importante também saber que comê-los não é uma obrigação. Alguns dias você não vai sentir fome. Dê seu lanchinho para alguém, deixe para o dia seguinte - procure algum recurso.

  • Sempre que alguém lhe oferecer algo, faça o exercício de imaginar o ambiente sem aquela oferta. Será que se o seu colega não tivesse te oferecido o chocolate, você teria pensado nele? As vezes estamos, de fato, querendo comer algo e…. voilá, algum santo aparece com a idéia. Ótimo! Mas e se você nem estivesse pensando nisso? Vale pegar só porque ofereceram?

  • Combine com seus amigos de trabalho de fazer lanches coletivos. Una-se a aqueles que não estão imersos no mundo da dieta (traz eles pro mundo do #naocontocalorias) e montem um cardápio simples! Assim vocês podem comer de tudo, sempre, sem precisar aceitar só por educação.

  • Leve seus lanchinhos, mas não deixe em cima da mesa. Guarde em um local que seus olhos não precisem encarar o dia todo - e a vontade de comer ficar batendo na porta.

  • Lembre-se que não é fácil, sobretudo se você está fazendo uma restrição ou pensando que não pode, de jeito nenhum, comer determinado alimento. Ninguém espera que você faça tudo perfeitamente e que não coma somente porque é gostoso, mas sim que você faça uma avaliação rápida e, caso a escolha for positiva, coma sem culpa - e não com o raciocínio de ‘JÁ QUE…’

Espero ter ajudado um pouco.

E pra minha paciente I.S, um grande beijo. Saiba que você me inspira e gosto muito de você!

Marina