Gordura: consumir ou banir?

gordura1.jpg

Provavelmente, em algum momento da sua vida, foi insistentemente cobrado a reduzir ao máximo a gordura da sua dieta: nada de ovos com gema, muito menos aquela gordurinha da carne. Iogurte integral? Esqueça. Consumir marnteiga virou um retrocesso: o produto da vez é a margarina.

Na década de 70 os americanos, assustados com os aumentos de casos de doenças no coração, reduziram o consumo de gordruras animais – todos eles incentivados pelas “Dietary Goals for the United States” – ou seja, metas alimentares para os EUA.

Corta para meados de 1976: relatórios sobre um aumento de doenças cardiovasculares fez com que uma comissão do Senado Americano – na época presidida pelo Senador George McGovern – se reunisse para discutir possíveis diretrizes para uma melhor alimentação, e claro, redução nas doenças cardiovasculares. A tal comissão escutou advogados e jornalistas (médicos e cientistas nem pensar!) e então bolou as metas, que orientavam os americanos a cortarem carnes, ovos e laticínios – todos os alimentos ricos em gorduras saturadas. Essas metas foram traçadas levando em consideração uma correlação direta entre consumo de gordura saturada e doenças cardiovasculares (sem considerar outros fatores, como o aumento do nível de sedentarismo e consumo de carboidratos, além de uma alimentação hipercalórica).

A indústria não poderia ficar para trás, e claro, se beneficiou da nova regra ‘não coma nada que tenha gordura saturada ou colesterol: lançou vários produtos ricos em gordura trans (não tem colesterol!) e em carboidratos refinados. Por sua vez o consumidor trocou os ovos com bacon da manhã por caixas de sucrilhos, a carne por porções extras de lasanha congelada pronta low fat e a manteiga por margarina.

Voltamos para os tempos atuais: dos anos 80 para 2012, a incidência de diabetes tipo II nos EUA aumentou 166%. O mundo abriga o dobro do número de obesos que tinha na década de 80. As doenças cardiovasculares continuam sendo causa principal de morte não só nos EUA, como no Brasil e outros países.

Porém a demonização da gordura se estabeleceu no mundo inteiro - Vejo isso claramente quando alguém diz bem feliz que não come manteiga, só margarina.

Inocentemente, quando a comissão de McGovern lançou as guidelines da dieta americana, esperava-se que os cidadãos trocassem o excesso de gordura por frutas, vegetais e cereais integrais. Mas ela foi substituída por montes de carboidratos refinados e açúcar. A verdade é que a dieta do típico americano da década de 70 já era hipercalórica (pelo excesso de gordura), ou seja: fator essencial para um ganho de peso, que é um dos fatores que aumenta o risco de doenças cardiovasculares. Mas ao invés de remodelarem a maneira do americano se alimentar – ou seja, vamos consumir menos calorias e optar por ingredientes mais saudáveis – elegeram um culpado: a gordura?

Quer dizer que posso comer gordura sem me preocupar?

Não podemos negar o fato de que um excesso de gordura saturada aumenta o LDL (o famigerado colesterol ruim). Mas só isso não é suficiente para aumentar as nossas taxas de colesterol. Além da mesma gordura saturada aumentar não só o LDL mas também o HDL (que é bom!!!), sabemos que a genética conta muuuuuuito na hora de definir nossos níveis de colesterol, e nesses – e outros casos – a gordura abdominal também. Exemplificando: existem pessoas magérrimas que tem o colesterol nas alturas – são verdadeiras máquinas de produzir colesterol: o consumo de gorduras beneficiará pouco nessa decisão corporal; e existem pessoas que apenas emagrecendo – e ainda assim comendo gordura animal – reduzem os níveis de colesterol para patamares ótimos.

Ou seja: não dá para colocar apenas um nutriente como o vilão da história.

E não dá para se apoiar no radicalismo. Reduzir o número de gordura saturadas vale para quem realmente consome em excesso. E a possibilidade do consumo excessivo ser somente em gordura saturada é pequeno: geralmente excedemos em vários pontos.

Retirar a saturada e incluir trans também não é uma boa opção. A gordura saturada, quando consumida em níveis aceitáveis, auxilia na absorção de vitaminas e produção hormonal, enquanto a gordura trans não faz nada além de reduzir o HDL (bom colesterol) e aumentar o LDL (colesterol ruim).

Deixar outras gorduras de lado (no caso, as gorduras insaturadas) também é uma péssima idéia: essas gorduras são encontradas em peixes, oleaginosas, e alguns óleos vegetais são benéficas ao nosso funcionamento hormonal e cardiovascular.

O grande recado para o consumo de gordura é simples: não exceda. Por ser um nutriente mais calórico, se consumido de maneira irregular, pode gerar ganho de peso. Mas o mesmo pode acontecer com um consumo excessivo de proteínas e carboidratos.

Não adianta colocar sua salada para nadar num monte de azeite de oliva e querer perder peso, mas também não adianta achar que ‘ok comer gordura a vontade’ e se lambuzar com grandes quantidades de gordura saturada por dia. A solução sempre será o equilíbrio. Se você continua com dúvida sobre todo o debate da gordura, faço duas sugestões:

- Procure um médico e um nutricionista. Eles são as melhores pessoas para te indicar uma alimentação adequada.

- Leia o livro ‘The Big Fat Surprise”, da Jornalista Nina Teicholz – ou até o “Em defesa da comida – um manifesto” de Michael Pollan. A revista americana TIME de junho de 2014 também trouxe uma ótima reportagem sobre a gordura. E leia o post aqui do blog sobre manteiga e

Espero que tenham gostado!

Até a próxima!