Um final feliz para as mulheres

Fernanda Torres e Demi Moore foram premiadas pelo seu talento, dedicação, atuação. Elas mereceram, e nós mulheres também merecemos. Esse prêmio também é nosso. Um troféu no meio de uma competição pela beleza, onde produtos anti-aging, meninas de 10 anos sendo estimuladas a fazer skincare, clínicas de botox dentro de shopping centers, micro dosagens de ozempic parecem disparar na frente dessa briga … Finalmente um prêmio que não é aquele que já temos, o de segundo país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo (perdendo apenas, claro e ironicamente, para os Estados Unidos).

Foi muito ver Demi Moore e seu discurso emocionado, contando que após ouvir um produtor dizer que ela era só era uma ‘popcorn actress’, passou muito tempo presa nesse lugar - que no caso dela, significava estar sempre bonita, magra e sexy, atuando em papéis onde seu sua beleza era prioritariamente explorada. Proposta indecente, striptease, assédio sexual, as panteras são alguns dos vários títulos onde o corpo de Demi Moore não deu espaço ao seu talento. 

-Coincidentemente ou não, esse troféu veio depois de atuar em “a substância” que conta justamente a história de uma atriz que, ao chegar nos seus 50 anos, é demitida pelo seu produtor.- 

Quando Demi Moore conta a sua história, ela está contando a história de várias mulheres, que por anos são submetidas a pressão estética e que em algum momento da vida, percebem que aquela energia poderia ser gasta com algo muito mais valioso, proporcionando uma felicidade pacífica - e não aquela alegria efêmera e caótica que a beleza proporciona.

Eu sempre pensei na tristeza que é ver as mulheres perderem a fase mais preciosa das suas vidas presas nessa luta pela beleza. Mas mudei meu pensamento. Ainda sigo achando a pressão estética algo muito triste e grave, mas entendi que a juventude não é a fase mais preciosa da existência humana. Acredito que todas as fases são preciosas, têm seus altos e baixos e que nunca é tarde para enfrentar os mais duros pesadelos e mudar -  nós mesmas e o mundo.

E um dos motores dessa mudança, difícil de ser realizada, eu sei, é a representatividade. Ver mulheres desempenhando papéis, rompendo as amarras sociais da beleza e da juventude é inspirador e empoderador. E nada como um discurso da Demi Moore nesse momento, depois desse filme.

E também nada como ver Fernanda Torres ganhando um Globo de Ouro. Uma atriz que não se curvou a pressão estética, manteve suas linhas, rugas e sorrisos. Uma mulher que habita com tanta naturalidade no próprio corpo. Uma mulher que conseguiu construir uma carreira sem que seu corpo não fosse o protagonista, e que aos 59 anos, conseguiu conquistar esse prêmio. Isso é muito poderoso e empoderador. Sabemos que uma mulher faz o que quiser com seu corpo, muitas escolhas são legítimas, mas falando principalmente da indústria cinematográfica, decidir estar nesse lugar e decidir não ter seu corpo como objeto central não deve ser fácil.

Ver uma mulher vivendo num corpo da idade que ele representa, cheia de sucesso e de energia, é sexy, é poderoso.

É inspirador.

É a grande demonstração de que vale a pena buscar a manter a autenticidade, sabendo diferenciar o que é uma escolha genuína e o que é uma decisão direcionada e imposta.

Enquanto circulava pelas notícias do Golden Globe, vi muitas fazendo referências aos decotes e ‘segredos de beleza’ das estrelas do tapete vermelho. Nesse momento e nesse tema ‘corpo feminino’, oscilo entre ver o copo meio cheio e o copo meio vazio. Mas dessa vez, o copo meio cheio ganhou. Ver Fernanda Torres e Demi Moore sendo as grandes protagonistas da premiação é uma brisa de otimismo num vendaval de horrores.

Foi lindo ver esse final feliz.

<3

Marina

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