A velha calça desbotada (ou coisa assim)

Grande parte das mulheres que desejam emagrecer querem entrar naquela calça que um dia serviu - ou que nem serviu direito, mas acabou sendo comprada na esperança de um dia estar lá. 

Nosso corpo muda além do peso. Você pode passar a vida inteira com o mesmo número na balança - ou pequeniníssimas variações. O seu corpo vai mudar. Para as mulheres, por exemplo, ele muda após a menarca, muda após os 30, após a maternidade; muda de acordo com a atividade física que se pratica, muda com o anticoncepcional oral, muda aos 40, muda após amamentar, muda após a menopausa, muda aos 60. Isso é da natureza feminina, é comum a todos os seres humanos e faz parte do processo. Se você tirar o foco do número da balança e da roupa e se conectar melhor com o seu corpo, vai conseguir tirar de letra todas essas transformações que estão fora do nosso controle e que fazem parte da vida.

Outro dia fiz duas enquetes no meu instagram: 'você guarda roupas da época que tinha um peso/formato de corpo diferente na esperança de usá-las um dia?' e 'você que está tentando ou pretende emagrecer está guardando suas roupas antigas esperando que use essas roupas novamente?'. O resultado vocês já podem imaginar: a grande maioria disse que sim.

Os objetivos

A Joana do Futilidades encontrou uma ótima solução para vestir calças lindas e confortáveis.

A Joana do Futilidades encontrou uma ótima solução para vestir calças lindas e confortáveis.

No mesmo dia que fiz essa enquete eu li no livro "Aprender a Viver" de Luc Ferry a seguinte frase: "Esquecemos que não há outra realidade além da que é vivida aqui e agora, e que essa estranha fuga para adiante nos faz com certeza falhar. Assim que o objetivo é alcançado, temos quase sempre a experiência dolorosa da indiferença, ou mesmo da decepção."

Para quem quer iniciar uma mudança, objetivos e pequenas metas são importantes para manter o bom funcionamento da rota traça. Mas o foco não deve morar só futuro, principalmente se ele é uma calça antiga. O foco deve ser no presente, no que podemos fazer aqui e agora. Além disso, não é conflitante querer, futuramente, usar uma coisa do passado?

Você mudou. A calça não

Desapegar daquela velha calça número 'xy' não é fácil, eu sei. Mas pense que você decidiu mudar seu estilo de vida, sua alimentação e suas atividades físicas. Você tem como um dos objetivos a perda de peso. Agora vamos imaginar que você chegou nessa perda a partir de um processo de desconstrução/reconstrução cheio de ressignificações. Será mesmo que você vai querer usar aquela calça tão antiga, que é do tamanho das suas antigas inseguranças e frustrações? Será que depois de um caminho de aprendizado você não vai finalmente se sentir a vontade e querer entrar numa loja para escolher uma nova roupa, seja lá qual o tamanho dela? 

O novo eu

Eu acredito que o ato de se vestir, na maioria das vezes, representa uma forma de comunicação nossa com o mundo. Você quer mostrar quem você é pro mundo sem precisar se explicar com palavras e gestos. Imagine então que você entendeu que um número de calça e balança não significam nada e que você está, finalmente, respeitando seu corpo, suas angústias e suas alegrias. Você é uma nova pessoa que sabe se ouvir com cuidado. Será mesmo que você vai querer aquela roupa antiga cheia de pensamentos antigos? E querendo usar uma roupa menor do que seu corpo, qual a mensagem você estaria querendo passar? Autenticidade é muito mais importante para o exercício da auto-confiança do que uma calça 36, 38, 40 ou seja lá o número.

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Rua, passarela e instagram

Não somos modelos profissionais e não andamos em passarelas. Não somos blogueiras de moda e passamos o dia com alguém nos fotografando. Andamos na rua, no dia a dia, estamos sujeitas ao calor, ao frio, a chuva, ao vento, ao chefe chato, a TPM, a retenção de líquido, ao happy hour depois do trabalho. Temos uma vida que requer, sobretudo, conforto. Não somos 'Barbie na caixa', somos pessoas com demandas diferentes de uma manequim. Fazer um esforço sobre-humano para entrar numa calça somente porque ela é tamanho 'x' vai contra o que mais precisamos para realizar nossas tarefas diárias, e te fará sentir não só desconfortável como cada vez menos a vontade no seu próprio corpo. 

Outras reflexões

Há quanto tempo que você está guardando essa roupa: 3 meses ou 3 anos? O que ela realmente significa para você, ela tem algum valor sentimental que vai além do número? Você já usou essa roupa por muito tempo? Todas as suas roupas estão na mesma situação ou é só essa peça? Em algum momento você vestiu essa roupa e se sentiu confortável? E o mais importante:  

 Não é você que tem que entrar na roupa, a roupa que tem que entrar em você.

Por isso eu sugiro um exercício: retire do seu armário todas as roupas que você guarda na esperança de um dia usá-las e doe. Doe para alguém que precisa muito ou que tem menos que você. Uma leitora me escreveu dizendo que "é menor a dor do boleto do que a dor da pressão que a gente sente ao abrir o guarda roupa e ver roupas que não servem".

Tirar essas roupas do seu campo de visão irá não só diminuir sua angústia e sua frustração, como também vai te colocar no presente - o único lugar onde você deveria estar vivendo - e te fará reconectar com essa nova pessoa que está emergindo aí de dentro.

Até a próxima!

Marina