Eu li: Daiana Garbin - Fazendo as pazes com o corpo

Quando meu cunhado disse que uma colega de pós graduação estava fazendo um canal no youtube sobre aceitação corporal (palavras dele) e era jornalista, torci o nariz. Não sei explicar bem porque, mas acho que é pelo cansaço de ver tanta informação ruim sendo divulgada por aí. Pura besteira minha, que nem quis saber do que se tratava e fazer um julgamento. Preconceito puro. Volta e meia a gente comete esses erros, né?!

E era mesmo um erro. Alguns meses depois a Daiana me chamou para gravar no seu canal do Youtube e lá fui eu. 

Depois desse dia, meados de outubro de 2016, tive que vestir as sandalinhas da humildade e dar meu braço a torcer: não é só nutricionista que pode falar sobre nutrição. 

Não sei se vocês sabem, mas eu sempre quis ser jornalista ou trabalhar com comunicação. Passei a vida dizendo que ia fazer faculdade de comunicação ou jornalismo e nos últimos minutos do segundo tempo eu mudei pra nutrição. Gostava muito de biologia, embarquei na frase que impacta qualquer adolescente ('Jornalismo não dá dinheiro') e não era disciplinada o suficiente pra estudar pro vestibular de medicina. Vamos fazer nutrição então!

Quando encontrei com a Daiana, personificação da pessoa que fez o que eu (também) queria ter feito e tinha tanta responsabilidade para falar sobre o que eu fiz, foi como se eu fortalecesse meu lado Pollyana: ainda há esperanças.

O livro

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A Daiana me contou que o título é "fazendo" as pazes com o corpo e não 'faça' ou 'eu fiz' porque isso é um processo que está acontecendo. Eu poderia dizer que a palavra está nesse tempo verbal porque o livro te leva desde 'a hora mais escura' até a conclusão de que você não pode se cobrar tanto para amar o próprio corpo - que na minha opinião, é onde mora o amor próprio: no respeito.

Nos primeiros capítulos Daiana conta como começou a cobrança para ser magra e bonita: a exposição no colégio após uma sessão de 'medir peso e altura', a calça 34 ou 36 recomendada em uma revista para adolescentes que não servia,  o primeiro coração partido, a chegada da menstruação; tudo carregado de muitas inseguranças e inadequações.

Depois desse processo começaram os remédios, as lipoaspirações e o ódio de ter aquele corpo. "Prefiro morrer a ser gorda" - foi o que Daiana pensava quando a mãe falava sobre os riscos de uma cirurgia. Para completar veio a pressão no trabalho, para que ela fosse mais magra. Mais remédios. 

Depois de muito tempo, Daiana decidiu criar o Canal Eu Vejo. E bem, o resto da história vocês já conhecem - e se não conhecem, sugiro que leiam o livro. 

Quem deveria ler?

  • Pessoas que acreditam que transtornos alimentares são frescura, coisa de gente desocupada, besteira;
  • Pessoas que pensam: 'como pode uma mulher tão bonita assim pensar isso?'; 
  • Nutricionistas e profissionais de saúde em geral, principalmente aqueles que continuam acreditando que 'pra emagrecer só basta ter força de vontade'; 
  • Pessoas que associam sucesso/alegria a perda de peso; 
  • Pessoas que acreditam ter uma má relação com o corpo ou com a comida; 
  • Pessoas que vivem numa eterna luta com a balança; 
  • Pessoas que tem medo, que precisam de coragem (o livro é um show de coragem, mostrar isso tudo pro mundo, definitivamente, não é fácil!) -
  • Pessoas.

O que a Daiana fala no livro é o que meus pacientes falam no consultório. É o que eles as vezes não falam, mas sentem. É o que sinto quando as pessoas me escrevem, cansadas e desesperadas. É o que vejo numa pessoa que diz que 'vai fazer restrição só dessa vez' e quando perder peso 'vai tratar a compulsão'. É o que vejo na menina que quer perder peso porque acredita que isso vai fazer o cara que ela ama (ou pensa que ama) ficar com ela. 

Daiana tem feito um trabalho lindo, responsável e inteligente. Ela tem mostrado para as pessoas que ter problemas (um ou vários) é a coisa mais natural do mundo, que não interessa se você é feio ou bonito, gordo ou magro, rico ou pobre, gay ou hetero, as insatisfações estão por aí, no colega do lado, na blogueira fitness do instagram, na modelo da Victoria Secrets, na faxineira do seu prédio, na sua mãe, na sua irmã. 

O que o livro trouxe para mim

Eu e Dai, no lançamento do seu livro

Eu e Dai, no lançamento do seu livro

O livro me fez entender mais sobre o que enfrento diariamente no consultório. A Daiana escritora me trouxe mais informação e sensibilidade sobre as dores cotidianas das mulheres que recebo, de uma visão muito menos técnica e engessada. 

Já a Daiana pessoa me inspira pela sua coragem. Eu poderia falar da sensibilidade, da humildade, da empatia dela. Mas coragem é o que vejo na Daiana. Eu tenho os meus demônios - diferentes dos que ela tem - e para espantá-los eu trabalho diariamente para ser uma pessoa mais corajosa. A Daiana é uma mulher corajosa, e por isso, inspiradora.

Eu termino esse texto te convidando para a revolução que só você pode fazer. Te convidando para ler uma das coisas mais bonitas que já li.

"O amor não cobra nada. Então não force a barra. Se você achar que nunca será capaz de amar sua imagem como ela é, tudo bem. Não se culpe, não se desespere."

Dai, você sabe: sou tua fã! <3

Até a próxima!