O que (des)esperar quando você está esperando

Enjôos e vômitos costumam marcar muito o início de uma gestação. Algumas mulheres se atentam para a possibilidade de estarem grávidas quando começam a enjoar.

Algumas mulheres de fato sofrem com esses e outros sintomas. Além dos enjôos elas podem sentir azia, refluxo, gases, cansaço, constipação e tonturas. Isso sem falar nas variações de humor, no sono, no apetite maluco e nos esquecimentos diários. Eu imagino que o primeiro trimestre deve ser uma TPM aguçada e prolongada, o que explica a não romantização do processo. 

Independente se você foi premiada para sentir isso tudo ou não, o papo aqui é com as mães de primeira viagem. Eu sempre tento explicar para essas pessoas porque você está sentindo tudo isso. Saber sobre os processos biológicos não melhora os sintomas, mas entender o que passa no seu corpo é essencial para saber lidar com ele.

Náuseas e Vômitos

A primeira coisa que você deve saber é que as duas não são sinônimos. Náusea é a sensação de ânsia de vômito. E vômito você já sabe o que é. Algumas gestantes descrevem a náusea como uma sensação de 'ressaca' constante. Sabe aquele pós porre que você sente fome mas não quer comer, qualquer imagem de um líquido descendo pela sua garganta já causa enjôo? E tudo que você sente é um gosto esquisito na boca - o famoso cabo de guarda chuva? Outras descrevem que essa náusea é igual aquela causada quando estamos num barco ou num carro em movimento. 

Algumas gestantes sofrem durante a gravidez inteira mas a maioria é salva pelo 'milagre do 4 mês: elas tem seu início na 4 semana, atingem seu pico máximo na 9 semana e reduzem na 20 semana. E acontecem, de maneira geral, pela manhã. As causas de náuseas e vômitos não estão totalmente elucidadas, mas acredita-se que a secreção de Beta-HCG e de estrogênio sejam os causadores desses sintomas. Ambos hormônios aumentam nas 20 primeiras semanas e atingem um plateau (constante) após esse período, por isso os enjôos e náuseas tendem a sumir e/ou desaparecer. 

Para evitar algumas recomendações são importantes: 

• Evite ficar de estômago vazio. Longos períodos entre as refeições podem piorar os sintomas.
• Prefira alimentos secos, crocantes e salgados. Alimentos muito quentes, pastosos e ricos em molho tendem a piorar a náusea - e afastar de vez seu apetite;
• Deixe algum alimento no criado mudo, ao lado da cama. Se estiver tendo muitos enjôos matinais, tente comer antes de se levantar: pode ser uma torradinha (seca, crocante e salgada!)
• Muitas grávidas falam da predileção sobre alimentos frios e ácidos/azedos. Suco de limão, abacaxi gelado provocam água na boca. 
• Água e líquido durante as refeições pode piorar os sintomas

Azia, refluxo e queimação

Como se não bastasse o azedume do humor, ainda tem o azedume do estômago. Muitas gestantes reclamam de constante queimação e refluxos. O responsável por esses sintomas é a progesterona, que se comporta como os hormônios citados acima: aumenta nos três primeiros meses e depois se mantém num nível constante. A progesterona relaxa os vasos sanguíneos, o que provoca não só azia e queimação como também constipação e gases. Não dá pra lutar contra a natureza mas dá pra se unir a ela:

• Uma dieta rica em fibras e água é essencial. Porém, essa alimentação deve ser fracionada. É interessante conversar com o nutricionista sobre isso;
• Evite deitar após as grandes refeições e evite fazer refeições muito volumosas. Sei que o sono está de matar, mas tente dar seu cochilo sentada ou com um travesseiro mais alto. Seu refluxo agradece.
• Faça anotações sobre seus sintomas. As recomendações gerais tendem a funcionar, mas cuidar da individualidade de cada um é essencial. 

Fome e apetite

Sem considerar que as náuseas e os refluxos podem atrapalhar o ato de comer, algumas gestantes sentem muita fome durante a gestação. Algumas começam e terminam a gravidez craques nas experiências gastronômicas e isso tudo é culpa do estrogênio, hormônio que colabora para o aumento do apetite. Meu conselho para as grávidas é: fique de olho no seu apetite! Ele vai te guiar para as melhores escolhas! 

• Os desejos podem informar muito sobre as necessidades da mãe e do feto. Fique de olho nele e, de preferência, trate-o com respeito. Isso não significa comer sem parar, mas ceda as suas vontades, encontre um meio termo.
• Se você estiver sentindo vontades 'estranhas', procure seu médico. Algumas gestantes tem vontade de comer shampoo, sabonete e outros produtos não alimentícios. Converse isso com o profissional que estiver fazendo seu pré-natal.
• O ganho de peso varia muito de mulher pra mulher. Não existe um peso correto e muito menos '1 kg por mês'. O mais importante é individualizar: cada caso é um caso. Coma para ter uma gravidez tranquila, saudável e feliz.

Atividade física: o melhor remédio

Segundo as útlimas guidelines do American College of Obstetricians e Gynecologists, a atividade física não aumenta o risco de abortos ou partos prematuros. É sugerido que uma gestante pratique no mínimo 150 minutos de atividade aeróbica (intensidade moderada) por semana, e essa recomendação pode ser fracionada em 30 minutos nos 5 dias úteis da semana.

O interessante é manter a atividade que você fazia antes. Se você já praticava algo ou quer começar, converse com o seu médico, pois existem situações específicas. Se você não tem nenhuma limitação e contra-indicação, pratique exercícios. Eles podem reduzir dores nas costas até o risco de diabetes gestacional; melhorar a constipação, força muscular e sensação de cansaço e evitar o ganho excessivo de peso.

Gestação não é competição e nem corrida maluca

Não se pressione para ganhar "x" Kg durante a gestação - sabe aquela regra do '1 kg/mês?'. Vá com calma. Os sintomas vão mudando de mês em mês, as vezes você não ganhou nada no primeiro trimestre porque estava muito enjoada e depois a fome pode vir com tudo, fazendo você ganhar mais que 1kg/mês, por exemplo. Converse e EXPLIQUE pro seu médico o que você está sentindo. Não se cobre tanto. Faça o SEU melhor, mas sem neuras.

Existem mulheres que passam ilesas pelo período. São 9 meses mágicos de muita espera. Existem outras que sofrem, detestam ficar grávidas, se sentem feias, se sentem chatas. Ninguém é menos mãe do que ninguém porque gostou ou não da gestação. É um período de grandes transformações - externas e internas - onde a mulher tem que lidar com um vulcão em erupção no próprio corpo e as inseguranças de um período futuro - além dos palpites e curiosos de plantão. 

Planejamento é essencial para uma gestação tranquila, mas saber que algumas coisas vão sair de controle - desde seu esfíncter até sua paciência - também é importante.

Até a próxima!

Marina