Prescrição ou não, eis a questão

Desde que a idéia da nutrição comportamental começou, várias questões ficaram no ar. Dentre elas a dúvida se essa linha da nutrição fazia ou não prescrição de plano alimentar.

Antes mesmo de darem um nome para isso, sabendo que eu trabalhava e pensava de um jeito não convencional, eu não me importava de continuar montando meus planos alimentares. Para cada paciente que entrava e saía da minha sala, eu elaborava um plano, um roteiro. Bem diferente do jeito que eu havia aprendido na faculdade, mas ainda assim colocava tudo num papel.

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Assim que o conceito de nutrição comportamental surgiu e fui conhecendo profissionais e lendo mais sobre esse assunto, me senti perdida. Como se algo tivesse errado ali! "Eu não sou a favor de dietas, mas mesmo assim, eu ainda fico presa no papel, passando esses planos alimentares". 

Foi um tempinho difícil, onde eu queria achar uma maneira de não passar um plano alimentar e conseguir orientar bem meus clientes. Isso foi na mesma época em que coloquei o adjetivo 'comportamental' do lado da palavra 'nutricionista'. 

Até que percebi que trabalhar com comportamento alimentar era muito mais do que a proibição de uma prescrição ou de não fazer um exame físico. Na verdade, trabalhar com comportamento alimentar é entender as particularidades do outro. 

Sei que muitos colegas de trabalho não gostam de prescrições e de roteiros escritos. E sei de outros que não deixaram esse modelo de lado. Eu achei meu jeito de trabalhar, que transita entre as duas possibilidades. E foi aí que eu assumi só o termo nutricionista para o que eu faço, e me libertei para usar ou não o plano. 

Hoje eu escolho fazer ou não uma avaliação física ou elaborar ou não uma prescrição de acordo com cada paciente e como eu me sinto para lidar com ele. Hoje eu opto pelo modelo que vai deixar a pessoa mais segura e confortável para fazer suas mudanças ou observar sua alimentação. E claro, a maneira que eu acredito que será melhor sem prejudicá-la. 

Além disso, existem várias ferramentas que vão além da prescrição que funcionam super bem. 

Penso que decidir parar de fazer dieta é como aprender a nadar. Você não se joga no meio da piscina e sai por aí, nadando como o Michael Phelps. Você primeiro vai para o raso, com bóias e pranchas. Depois, pela borda, vai até o fundo. Tira a bóia de um braço, depois do outro. O professor se mantém ao seu lado. Você solta uma mão da borda, depois a outra, mas fica ali perto. Após um longo período, você consegue se desprender, sem medo, para curtir mesmo sem colocar os pés no chão.

Da mesma maneira, no meu ponto de visto, o plano alimentar (ou outra orientação mais específica) pode funcionar, porque pode dar sustentação e segurança para uma mudança tão profunda e difícil (sim, porque não é fácil!). 

imagem encontrada no pinterest

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Com o tempo as pessoas se sentem mais confortáveis e prontas para absorver o que precisam através apenas do bate papo no consultório ou outras ferramentas, ou passam ainda muito tempo querendo um papel com orientações escritas, mesmo se for pra espiar 1 ou 2 vezes ao longo do mês. 

Existem outras pessoas, peixes natos, que não precisam e não querem um pedaço de papel. Querem o bate papo, o tira dúvidas, as novas ou velhas informações e outras técnicas de intervenção. Elas não ficam nas bordas, se lançam pro meio da piscina e raramente chamam pelo salva-vidas. São em menor número, confesso. Mas elas existem.

Dentre esses dois tipos, não há melhor ou pior. Existe o que é melhor ou pior para cada um. E isso deve ser avaliado no consultório, entre nutricionista e cliente. 

Por isso, se você está com medo de procurar um nutricionista que trabalha com nutrição comportamental, aqui vai uma dica: explique para ele o que você espera, suas reais necessidades, seus medos, seus desconfortos. Abra espaço para uma conversa. Isso não significa que ele pode ou deve atender a todos os seus pedidos (porque a decisão do profissional também é importante), mas conversando a gente chega longe e numa boa escolha de tratamento.

Até a próxima,

Marina