Não quero fazer dieta... mas não quero engordar!

Estamos num momento muito sensível da alimentação humana: escolhemos alimentos pelos seus nutrientes, temos dificuldade de reconhecer nossos sinais de fome e saciedade e passamos o dia nas redes sociais, tentando copiar todos os tipos de exercícios e receitas numa tentativa frustrada de ter o corpo ou a vida do outro. 

Eu recebo diariamente mulheres esgotadas. E esse esgotamento não é causado só pela cobrança do corpo perfeito, mas também da briga com a comida. Elas começam a perceber que não faz mais sentido contar calorias ou macronutrientes, ou se sentirem culpadas por comer algo gostoso. Porém, não sabem parar de pensar nesse assunto.

Falamos em nutrição comportamental, mindful eating, nutrição intuitiva, métodos para não fazer dieta, meditação, exercícios de respiração e várias outras novas maneiras de se reconectar com o corpo e com a comida. E tem muita gente empolgada com isso!

Mas tem muita gente com medo. Afinal, a permissão para comer de tudo assusta. Abrir mão do corpo magro para várias pessoas ainda está distante da realidade. 

Essas pessoas, totalmente esgotadas, chegam ao consultório muitas vezes com a voz embargada e os olhos cheios de lágrima, com vergonha de falar que tem medo de engordar (ou de não emagrecer). Você também se sente assim? 

Tá tudo bem!

Você querer perder peso e se ver livre das restrições não faz de você uma pessoa falsamente consciente. Faz de você uma pessoa humana, que passou anos recebendo mensagens como "Você PRECISA emagrecer" e "pra emagrecer, só fechando a boca". 

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Essa frase foi de uma paciente muito querida, que está tentando descobrir como fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ela quer dar prioridade ao comer consciente, mas também quer se ver livre do excesso de peso adquirido depois de tantas dietas malucas.

A nossa conversa foi parar na seguinte questão: onde que querer perder peso - de uma maneira orgânica e como resultado de um processo interessante - virou um problema? 

 

 

 

A idéia de um corpo magro precisa sim ser discutido no consultório e na mídia, afinal, a idéia de 'obesidade' ou 'sobrepeso' está totalmente equivocada e fora do nosso dia a dia. Porém, a gente tem que respeitar o desejo alheio e, sobretudo, entendê-lo.

Perder peso ainda é muito importante para muitas pessoas. Eu acredito que se isso não estiver atrelado a uma expectativa irreal de que, quando magra, você estará feliz e saltitante (#plena), não há problemas em discutir e buscar esse emagrecimento. Mas se a perda de peso estiver cercada de expectativa de alegria e poder, melhor rever esse conceito.

Porém, mais importante que qualquer perda de peso, é o poder de se sentir bem. E isso não depende do seu formato de corpo, mas sim o que você faz por ele. Se você o trata com privações e restrições sem sentido e insiste em acreditar que não dá para ser feliz atendendo seus chamados, você pode ter o corpo da sua musa fitness mais admirada, mas jamais será feliz. 

Mas e aí, dá certo?

Dá sim. É difícil, não vou negar. Ficamos vivendo por muito tempo conectadas em ordens externas, na cobrança do peso mínimo e outras prisões, para trabalhar com algo diferente assim, repentinamente.

O primeiro passo para dar certo é não acreditar em milagres. Se reconectar com o corpo e com a comida exige muita entrega e confiança. Confie no seu (bom) profissional. Ele não vai fazer NADA para te prejudicar. Ele está aí para te ajudar. E você não está fazendo pouco! Não é porque você está sofrendo que não vai dar certo! Desconstruir essa idéia de que perda de peso só vem com sacrifício é essencial para confiar no processo.

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O segundo passo é entender o que significa 'não fazer dieta'. Se você está cansada das regras alimentares e quer sair dessa vida, mas morre de medo de comer de maneira desmedida, aprenda uma coisa: não fazer dieta não significa comer como se não houvesse amanhã. Significa entender como cada alimento e suas quantidades funcionam no SEU corpo, observar seu paladar, suas vontades e etc. 

O terceiro passo - e na minha concepção, o mais importante e difícil- é trabalhar com duas palavras chave: entrega e paciência. Tem que rolar uma entrega grande para entender que comer de maneira mais intuitiva e consciência não combina com regras engessadas. E que o foco nos resultados físicos não é o caminho. A perda de peso será uma consequência do processo. Você irá aprender a comer melhor e vai carregar esse aprendizado para o resto da sua vida. 

A paciência entra na hora de aguardar as mudanças físicas. Dietas são imbatíveis em fazer você perder peso de maneira rápida, mas são igualmente imbatíveis na hora de fazer você ganhar peso e muitas manias alimentares. Seu pensamento deve estar preso a todas as outras mudanças benéficas e felizes que comer com mais autonomia e prazer te trazem. 

É um exercício diário

Tem dias que dá certo, tem dias que dá errado, como tudo na vida. Corredores não nasceram fazendo maratonas: começaram correndo alguns metros, depois alguns km, e depois de entenderem qual a melhor forma do seu corpo entrar em sintonia com a corrida, realizam suas provas mais longas. Algumas são ótimas, outras são péssimas, alguns se machucam no meio do caminho, outros caminham sem lesão. 

Com você não será diferente. Um dia vai dar super certo, você vai ficar feliz com suas escolhas, confiante de que está alimentando seu corpo de uma maneira mais gentil e racional. Outro dia você vai querer é que tudo mais vá pro inferno e esquecer todas as orientações que recebeu.

Costumo perguntar para as pessoas: seu chefe está sempre com o mesmo humor? Seu pai? Sua mãe? Seu marido? Sua esposa? Você? Claro que não!

Com você não seria diferente. Todos passamos por algumas dificuldades. Não fazer dieta é somente uma delas. Porém, o aprendizado desse processo te leva para um lugar maravilhoso, onde não há terrorismo e o termo 'não posso' se transforma na pergunta 'eu posso, mas será que realmente eu quero/preciso?'.

Até a próxima,

Marina