Na cidade de São Paulo

Quando eu cheguei na Avenida Paulista, esquina com Consolação, eu sabia que não ia voltar. A minha "Ipiranga com São João" foi o começo da minha vida corrida (lembrando sempre de deixar o lado esquerdo livre pra quem é mais apressado que eu passar). 

Tinha algo de megalomaníaco na Paulista cheia de luzes e de gente diferente que fez a minha Marina caipira ficar de boca aberta e pensar que estava na Nova York brasileira. E foi partindo dali que conheci o Sujinho, e desci a Augusta inteira as 00:00 horas pra curtir a noite gay do Glória com os quatro fervidos que me cediam um espaço no apartamento e no coração de cada um.

Depois fui parar na Rua Tupi, do ladinho do minhocão, e descobri o fantástico mundo das comidinhas Kosher do Santa Cecília e Higienópolis. A Marina admiradora da cultura judaica estava se achando no meio de tantos gravlax.

Vizinha do Arouche de Caco Antibes, cruzei a Paulista e me mudei (de novo). Lá eu entendi que os Jardins eram realmente aquilo tudo. A feira da Rua Batataes era o meu pomar e a Casa Santa Luzia, meu castelo. Porque comprar uma blusa nova se a gente pode comprar ingredientes? Foi aí que peguei firme na cozinha, morando sozinha em 30 metros quadrados e cozinhando meu almoço e meu jantar. Minha relação com aquele espacinho era tão boa que, certa vez fiquei sem gás durante um feriado e chorei para o funcionário da Comgás quando ele me disse que "cozinhar, só daqui uns 14 dias". 

Época boa.

Em São Paulo conheci o Frevinho tradicional, O Bar da Dona Onça, Casa Garabed, Dalva e Dito e entendi que aquele jeito paulistano de falar da novela das 8 era da Mooca. Andei de bike entre os carros, gastei 6 horas de São Paulo ao Guarujá em uma semana, e 60 minutos na outra. Aprendi a gostar de arte e provei Capeletti in brodo, Arroz aletria, Arak, Gin, Chancliche, Alcachofra e tâmara Medjool. Meu repertório gastronômico foi ficando grande como a cidade, e minha curiosidade idem. 

E como na cidade de São Paulo o amor é imprevisível, me mudei (de novo!!!), e ganhei não só uma nova cozinha (agora com forno de verdade!) como um parceiro para minhas aventuras gastronômicas. A Marina Julia Child ampliou o repertório e fez ceia de Natal, massas que deram certo (outras não), saladas, tortas, bolo e granola. Agora, Bonnie tem Clyde que tem como um dos passatempos preferidos pensar em novas descobertas alimentares.

São 464 anos de São Paulo comigo há 6 dentro dela. Aquele clichê de "São Paulo, o aniversário é seu mas quem ganha o presente sou eu" nunca fez tanto sentido.