Própolis, febre amarela e autismo

Recebi perguntas e li várias 'correntes' no whatsapp, além de ter observado no facebook e outras redes sobre possíveis alimentos que ajudam a prevenir a febre amarela: alho, própolis e vitamina B12 são os campeões. Das justificativas para procurar a solução através dos alimentos estão: não fortalecer a indústria farmacêutica, que criou a febre amarela (?); erradicar a doença através do fortalecimento do nosso sistema imune, ou seja, quanto mais gente pegar, mais acostumado nosso corpo estará e o vírus não vai conseguir nos 'atacar' (?) e, por último, o fato da vacina causar autismo e outras doenças (??).

Mas será que REALMENTE esses alimentos são capazes de evitar a presença do mosquito e prevenir a febre amarela?

Alho, própolis e vitamina do complexo B

Alguns alimentos realmente podem mudar (de maneira bem sutil) o suor. Só que isso é bem rápido e transitório, e dura somente o tempo necessário da metabolização e eliminação das substâncias que causam o odor. Suamos para resfriar a pele e manter nossa temperatura corporal. Em um dia quente, suamos mais. Em um dia frio, suamos menos. Vocês acreditam que realmente 3 a 6 gotas de própolis dentre 

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"Tome 3 a 6 gostas de própolis por dia. Ele entra na sua corrente sanguínea e o seu cheiro é expelido pelos poros, os mosquitos não suportam o cheiro e não picam". NÃO HÁ COMPROVAÇÃO científica de que o cheiro do própolis afastaria os mosquito, porém, é só raciocinar da seguinte: O suor é produzido por 99% de água, e existe para resfriar a superfície do seu corpo (que no Brasil, fica constantemente quente, já que faz calor na maior parte do tempo). Ou seja: você transpira o dia todo, querendo ou não. Não existe só um momento de suorzinho aqui ou ali. Quando está mais quente suamos mais, quando está mais frio suamos menos (as vezes até imperceptivelmente).

Nessa época de verão, onde as doenças como febre amarela são mais presentes, transpiramos mais. Será que 3 a 6 micro gotas de própolis seriam capazes de modificar o odor do suor de maneira tão efetiva durante 1 dia inteiro? Além disso, o odor do suor depende de fatores muito mais fortes e decisivos, como a genética, presença de bactérias específicas na  pele, mudanças hormonais, 

Alguns alimentos realmente podem mudar (de maneira bem sutil) o suor - por isso a crença que o alho também seria um bom alimento curandeiro. Mas essa mudança no odor é bem rápida e transitória (e as vezes inexistente), e dura somente o tempo necessário da metabolização e eliminação das substâncias que causam o odor.

A mesma falsa relação é feita com a vitamina B, que em tese modificaria nosso odor corporal, afastando os mosquitos. Outro mito.

Medo de vacinar

Em 1998 um médico e pesquisador e mais alguns colaboradores  publicaram uma série de casos no Lancet (uma revista científica), sugerindo que a vacina MMR (sigla americana para measles, mumps and rubella) podiam ser um fator de predisposição para várias condições comportamentais e de desenvolvimento, dentre elas, o autismo. Apesar no desenho científico questionável, o estudo teve uma publicidade enorme - inclusive de grandes atores de hollywood - e, a partir desse momento, os índices de vacinação começaram a cair, já que os pais temiam por vacinar seus filhos e predispô-los ao autismo.  

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Essa vacina, aqui no Brasil, é chamada tríplice viral. Nos estados unidos o movimento anti-vacinação está maior do que nas terras tupiniquins, porém aqui, já observamos casos de pessoas que acreditam piamente nessa relação nada causal.

Porém, a confusão toda veio não somente através desse estudo, mas também com a confirmação de pais que, após receberem o diagnóstico dos seus filhos, percebem que os sintomas começaram a ser notados justamente na época da vacinação da tríplice. Além disso, sabe-se que o autismo ainda é uma condição que não tem uma causa definida, o que faz com que a angústia humana procure toda a qualquer justificativa para tal dano.

Doenças que já foram erradicadas podem voltar pelo engano de se acreditar na causalidade entre vacinas e aquelas, quando na verdade a vacinação existe para evita-las.

Por isso o medo de aparecimento de autismo e/ou outras condições não deve ser justificativa para não se vacinar da febre amarela e das outras vacinas previstas no calendário de vacinação.

Lembrando que condições especiais – como idade, grupos de risco e etc – devem ser observados antes de qualquer tratamento ou vacinação.

Febre amarela

Há alguns anos atrás ela não estava no calendário vacinal da infância, porque a doença era inexistente em áreas urbanas. A preocupação maior era nas áreas endêmicas - Amazônia, por exemplo.  Por isso os órgãos de saúde pública não se preocupavam com a vacinação. Agora a doença está mais evidente em regiões anteriormente não endêmicas, e então a vacina se tornou necessária e essencial. E é na época das chuvas que o mosquito aparece a todo vapor. Sabemos disso com a dengue, e agora, com a febre amarela. 

Por isso, a sugestão é procurar o posto de saúde mais próximo e, se possível, consultar um bom médico de confiança caso você tenha dúvidas sobre a necessidade ou não da vacinação. E também engrossar o coro contra esses mitos de saúde prejudiciais a todos.

Colaborou com esse post Dra. Betânia Nogueira, médica infectologista e epidemiologista (além de prima-irmã-amiga-conselheira amada e adorada).

Obs: Vale dizer que alguns anos depois, 10 dos 12 co-autores do artigo se retrataram, explanando a insuficiência de dados e, ao mesmo tempo, foi descoberto que o autor principal omitiu conflito de interesses no estudo: ele estava sendo financiado por advogados envolvidos em casos de pais versus companhias produtoras de vacinas. E também perdeu sua licença, não podendo mais atuar como médico. Assim como nosso famoso e persona non grata no mundo das dietas, Dr. Dunkan.