Body neutrality: releitura de texto e opinião

“A chave para se manter ativo por muito tempo parece ser se importar menos com sua aparência e mais em como você se sente”. Foi por essa frase que comecei a ler um artigo do NYtimes chamado “Can ‘Body Neutrality’ Change the Way You Work Out?”(ou seja: “A neutralidade corporal pode mudar nossa forma de se exercitar?”), publicado por Charlotte Cowles, dia 02/02/2022.

O texto me ganhou de cara pela afirmação inicial não impor que você deixe de se importar com a aparência, mas sim sugerir que você coloque seu bem-estar como a grande prioridade do seu corpo. A maioria das pessoas pensa que, quando falamos sobre aceitação, estamos falando em ‘ignorar’ ou ‘não ligar mais’ para as insatisfações corporais que temos. Eu inclusive não curto o termo aceitação, prefiro o termo compreensão, já que faz mais sentido entender aquilo que você não gosta do que simplesmente se forçar a aceitar algo que te desagrada.

Ele seguiu ganhando minha atenção pois a autora começa falando sobre uma experiência individual muito debatida nas minhas consultas: a vivência do corpo feminino pós parto. Charlotte conta que ao tentar, sem sucesso, colocar uma calça jeans uma semana depois do parto, ouviu da sua mãe: “nada vai estar bom no seu corpo por um tempo, tente não se chatear com isso”. Esse conselho geralmente é difícil de ser cumprido, mas ela ela acatou com certa facilidade: Por estar com os olhos mais voltados para a nova função do seu corpo (parir e cuidar de uma nova vida), conseguiu então não se importar menos com a forma estética do momento. Essa percepção de Charlotte ainda não domina o desejo da maior parte das mulheres pós parto – que ainda são muito cobradas por ‘retornar’ ao velho corpo – mas quando as invade, desenvolve uma nova forma de se relacionar com a beleza e com a alimentação.

A prova de que ela estaria melhorando essa relação viria 6 semanas depois. Decidida a praticar alguma atividade física, recebeu um outro conselho: “faça exercícios aeróbicos e seu peso irá despencar”.

Ao contrário de seguir essa recomendação, Charlotte simplesmente decidiu investir nas caminhadas que fazia com o bebê no carrinho. E ela afirma: “eu não estava feliz com minha aparência, mas eu também não estava aborrecida a respeito. Eu simplesmente não estava me importando tanto sobre isso.” 

Com sua experiência ela vivenciou o Body Neutrality (neutralidade corporal). E no texto, ela explicou o conceito: a habilidade de aceitar e respeitar seu corpo mesmo que ele não seja da maneira que você gostaria que ele fosse.

“Não existe corpo errado” - imagem achada no pinterest

A criação do termo é designada a Anne Poirier, que explica que o body neutrality acontece quando você prioriza as funções do seu corpo além da sua aparência. Você não precisa amá-lo ou odiá-lo, pode apenas se sentir neutra a respeito disso. No ponto de vista também de Anne, o Body Neutrality é algo mais acessível e factível que o Body Positivity por exemplo, porque ele não impõe a obrigação de amar seu corpo, mas sim sugere a possibilidade de enxergá-lo sob outra perspectiva. Não é dizer ‘eu te amo’ para as próprias celulites, mas estabelecer uma relação mais pacífica com elas.

Charlotte também explica no texto o impacto de viver o Body Neutrality na aderência e manutenção nas atividades físicas, mostrando sempre que, quando o exercício nos provoca sensações reais de bem estar nos mantemos mais conectados a ele do que quando focamos somente nas mudanças estéticas.

Para quem estuda e sugere o Body Neutrality, essa relação acontece quando mudamos de foco e colocamos as recompensas funcionais de se praticar atividade física sobre as melhorias estéticas. Repetindo: não é abrir mão de redução de peso ou mudança na aparência, mas sim tirá-las do topo das prioridades em prol de mudanças que impactarão mais no seu bem-estar. Afinal, as tão esperadas mudanças físicas podem até acontecer, mas talvez demorem tanto que você já terá desistido no caminho. Já sensações de bem-estar (melhora no sono, na disposição, na saúde, etc) podem ser sentidas rapidamente, nos mantendo naquele hábito.

O texto também mostra outras vantagens do Body Neutrality. Uma delas é se envolver menos em lesões. Afinal, quando percebemos mais o nosso corpo, conseguimos identificar e estabelecer melhor nossos limites: quando o ‘no pain, no gain’ prevalece e a aparência vale mais do que qualquer coisa, silenciamos sinais de injúrias e podemos nos machucar com maior frequência e intensidade.

Uma outra vantagem do Body Neutrality é aumentar as possibilidades de se praticar algo que gosta, sem se adear a uma forma geral, ou seja: descobrir uma atividade física que não se resuma a velha fórmula “academia cheia de gente sarada e espelhos por todos os lados”. Já que o objetivo principal não é mais se tornar esteticamente semelhante a uma das pessoas que frequentam a academia, você pode talvez mudar o tipo de exercício e/ou de ambiente, buscando outras alternativas. Academias são excelentes, assim como atividades musculares ou a velha e boa esteira: mas elas não são as únicas formas de se manter com um corpo saudável. Porém, só se conclui isso quando você está afim de abrir mão do objetivo único e absoluto que é se manter num ‘shape’ específico, procurando algo que te faça sentir literalmente na pele num estado de bem estar.

Esse texto explicou o porque eu gosto tanto do conceito de Body Neutrality, e porque eu tento sempre mostrar para quem está ao meu redor que você não precisa renunciar aos próprios desejos a todo custo, mas que bom mesmo é viver o corpo que você tem, e não o que você acredita que ele deveria ser. Você não precisa abrir mão da vontade de alguma modificação estética, mas é necessário entender se o caminho para chegar nessa mudança vem com benefícios ou demanda sacrifícios da sua saúde mental, social e física.

Espero que você encontre seu equilíbrio e consiga viver em paz e compreensão com o seu próprio corpo!

 

Beijos,

Marina

Link para o texto original: https://www.nytimes.com/2022/02/02/well/move/body-neutrality-exercise.html