Eu li: a bela velhice

Semana passada uma paciente me disse para eu assistir o Ted Talks da MIrian Goldenberg. Ela fala  É um tedtalks super interessante que recomendo que todos vejam, o link está aqui: https://www.youtube.com/watch?v=CRos__CXTUo. Fui pesquisar mais sobre a Mirian, e desocbri textos maravilhosos, que nunca havia lido.

Comprei então o livro "A Bela Velhice", no qual ela fala sobre o processo de envelhecimento (principalmente) feminino. Os dados que ela disse no tedtalks sobre a felicidade e os anseios das mulheres são impressionantes, e quis saber mais. 

O livro é bem curtinho, daqueles que você consegue ler em um ou dois dias. E não, você não precisa estar acima dos 50, 60, 70 ou 80 para ler esse livro: basta ser mulher. Afinal, o processo de envelhecimento acontece a cada dia, basta estar vivo. Aliás, acho que você não deveria esperar ser o público alvo do livro para começar a ler.

Sendo "eu mesma"

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O que mais me chamou atenção no livro foi o quanto as mulheres acima dos 50, 60 ou 70 anos entendem que suas escolhas de vida devem ser motivadas pela própria vontade, e não pela necessidade de responder as demandas sociais. 

Será então que vivemos metade do nosso tempo querendo ser quem não somos somente para agradar o outro, e quando chegamos lá, concluímos que não éramos verdadeiramente felizes assim? Não seria melhor que a gente começasse a trabalhar isso mais cedo?

Em uma passagem, Mirian diz que essas mulheres pesquisadas deixam de existir para os outros e passam a existir para si, e percebem que ao perderem algo socialmente valorizado, elas dizem que ganharam algo muito mais importante. Ou seja: ao perceber que a idade trouxe um corpo não tão atlético, uma pele não tão brilhante e firme, elas ganharam liberdade de ser quem elas realmente são.

A receita da felicidade

Mirian também descreve as dicas que suas pesquisadas deram para uma vida mais feliz. Dentre todas estão "não ser tão crítica com os outros e consigo mesma', 'não se preocupar tanto com autoimagem', 'não se cobrar tanto', 'não querer ser perfeita', 'não ter vergonha do próprio corpo', 'não se comparar com mulheres mais jovens, magras e gostosas', 'não se olhar muito no espelho'.

Ou seja: mulheres que já se sentiram pressionadas a estar em um padrão 'x', que já se compararam, que já foram escravas da balança concluem que a felicidade está no NÃO para todas essas questões. E continuo perguntando: porque estamos esperando a vida passar pra gente conseguir entender qual o remédio para nossas angústias?

A cobrança externa

Mas a parte que mais me chamou a atenção foi quando Mirian contou sobre uma visita que fez ao dermatologista com 40 anos. Chegando lá, ele sugeriu que ela fizesse uma correção nas pálpebras, um preenchimento ao redor dos lábios e um botox na testa: "você vai rejuvenescer 10 anos", ele disse. 

Depois, ela conta que se colocou num estado de culpa: "Eu sou culpada por estar envelhecendo. A culpa é minha!". 

Era a primeira vez que Mirian ia a um dermatologista que, aparentemente estava dando soluções quando, na verdade, estava apontando os problemas. Me lembrei dos vários casos de profissionais de saúde que insistem em dizer que é só ter 'força, foco e fé' e pra 'ser maior que sua melhor desculpa'. Ou até aqueles que insistem em dar bronca nos seus pacientes, indignados porque a pessoa 'não fez o que o nutricionista mandou'. Isso tudo vive no mesmo universo da culpa que Mirian sentiu ao sair da consulta: é tudo culpa minha! Além de, claro, colocar velhice/ganho de peso como algo depreciativo, sendo que ambos dependem de muito mais fatores do que só do nosso cuidado ou da nossa 'força de vontade'.

Vaidade

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Isso quer dizer que não deveríamos querer perder peso? Não. Quer dizer que botox nem pensar? Também não. Querer perder peso ou atenuar traços físicos que te incomodam não faz de você uma pessoa triste: depender disso para alcançar a felicidade que é o grande erro. No livro, Mirian cita a atriz Fernanda Montenegro, que diz que "quem quiser, tem que me querer com meus papos, minhas rugas" e Jane Fonda, que acredita que "plástica é bom para você se parecer com você, só um pouquinho melhor, menos cansada e triste'".

No mesmo dia que li o livro da Mirian Goldenberg, assisti o filme "Extraordinário", que mostra a história de um menino que nasceu com uma deformidade facial. Em um dos diálogos que ele questiona sobre suas marcas no rosto, sua mãe diz, apontando para o próprio rosto: 

"Olhe para mim. Todos nós temos marcas no rosto. Eu tenho essa ruga aqui da sua primeira cirurgia. Eu tenho essas outras rugras da sua última cirurgia. Esse é o mapa que nos mostra onde você esteve. E isso nunca é feio".

Essas frases ditas por pessoas da ficção e da não-ficção me fizeram pensar no que Roxane Gay escreveu no seu livro Fome, e que já comentei aqui nesse post: todo corpo conta uma história. E toda história tem momentos tristes e felizes. Mas porque precisamos passar a grande parte da nossa história nos desagradando para agradar algo ou alguém?

A reflexão que 'A bela Velhice" de Mirian Goldenberg me trouxe foi essa: será que não podemos começar a mudar nossas atitudes e cobranças antes mesmo de deixar o tempo passar? Porque não começamos a escutar mais quem já viveu essas histórias e ansiedades e vamos aprendendo, devagarzinho, a ser mais leves e felizes? Acredito que a maturidade, em qualquer dos seus cenários, traz dádivas poderosas, como o poder de se amar plenamente e ligar o f**a-se para tantas coisinhas desnecessárias. Mas fica aqui o meu pedido: pense se vale mesmo a pena esperar chegar nos 50, 60, 70 ou 80 para perceber isso ou se não é mais interessante iniciar esse ensaio sobre o amor próprio agora.

Espero que leiam o livro, e me contem!

Beijos,

Marina