O amargo da Páscoa

O chocolate é um alimento muito antigo, que passou por algumas transformações até chegar nesse produto que consumimos hoje. Ao que tudo indica, os primeiros a cultivar e transformar as amêndoas de Cacau em bebida foram os astecas, por volta de 600 a.C. Essa bebida era feita com a torra das amêndoas de cacau, adição de água e, eventualmente, adição de alguma especiaria.

Depois, os europeus começaram a adicionar açúcar, canela, cravos e outros sabores. Por muito tempo ele foi conhecido e consumido no Velho Continente como uma bebida, até que os Holandeses o transformaram em Cacau em pó e os Ingleses inventaram o chocolate sólido.

A fabricação de chocolate passa por vários processos, que vai desde o plantio dos pés de cacau, passando por fermentação, secagem, torrefação, moagem, refinação, conchagem, refinação, resfriamento e solificação. Em algum ponto dessas etapas, o açúcar é acrescentado, e dependendo do teor deste ingrediente, o chocolate pode ou não se tornar amargo.

Segundo a definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Chocolate amargo é o produto preparado com cacau, pouco açúcar adicionado ou não de leite - na última atualização, o chocolate amargo tem que ter no mínimo 35% de sólidos totais de cacau. Alguns fabricantes decidem colocar a quantidade de cacau nos seus rótulos. Ex: chocolate 70%, 60%, etc. Quanto maior a gradação de cacau, menor a de açúcar e outros ingredientes. O chocolate ao leite tem uma quantidade menor de cacau e maior de açúcar.

E talvez tenha sido por isso que os chocolates amargos caíram nas graças dos profissionais de saúde: por ser um produto menos açucarado, tem um apelo de saudabilidade maior.

Mas será que é tão mais saudável assim?

Diversas soluções são oferecidas para ‘driblar’ a vontade de comer chocolate: tâmaras, chás, banana com canela… mas o chocolate amargo é uma das únicas ‘alternativas’ que eu já vi funcionar melhor. Digo alternativa entre aspas, afinal, é chocolate! Mas, temos que tomar cuidado com essa solução milagrosa.

Eu sou do time que o problema não está no ingrediente, mas sim na dose. E um dia desses me deparei com uma paciente que tem se permitido comer quantidades excessivas de chocolate porque ele é amargo. Afinal, ‘amargo pode’. E não é por aí.

Qualquer consumo excessivo e recorrente, principalmente quando ele causa, além do desconforto físico, o desconforto mental e emocional, é contra indicado. Mas não adianta substituir quantidades enormes de chocolate ao leite (visto como ‘não saudável’), pelas mesmas quantidades enormes de chocolate amargo. A culpa pode não existir, mas o excesso segue existindo.

A idéia de uma alimentação equilibrada passa, obviamente, pela qualidade do que consumimos. Mas apoiar nossos exageros não recomendados em produtos que são classificados como saudáveis, também não é recomendado.

Portanto, nessa páscoa, convido você a olhar o chocolate de uma maneira diferente. Escolha aquele que você verdadeiramente gosta, aquele que você consegue saborear em quantidades adequadas e com prazer, atenção e curiosidade.

Eu adoro os chocolates brancos, mas também me encanto pelos levemente amargos, ou aqueles que tem em sua composição notas de menta ou caramelos salgados. E você?

#EMPAZCOA