Medo de engordar

Um dos grandes conflitos de quem decide parar de fazer dietas (da moda ou restrições extremas) e escolhe melhorar a relação com a comida, é o medo de engordar. Muitas se perdem na culpa por sentir esse medo, e outras acabam não levando um tratamento adiante por causa dele. Então como não sentir medo de ganhar peso?.

Na minha opinião a pergunta não deveria ser essa. Esperar não sentir esse medo é cilada, tentar freá-lo mais ainda. Eu acredito que deveríamos aprender a conviver com esse temor. Afinal, medo é uma emoção normal, e ao invés de combate-la, deveríamos compreendê-la.

O problema do medo de engordar existe quando ele te paralisa, e não deixa você seguir em frente com a vontade e a coragem de melhorar sua relação com a comida (e porque não, com o corpo). Aí sim é uma questão.

Do outro lado temos o medo de engordar não problemático, aquele que pode ser até benéfico na hora de dar adeus a uma vida de restrições. O medo nos protege, e ele pode te ajudar a se auto-regular, uma vez que você já entendeu que não fazer dieta não significa comer de tudo, mas sim fazer escolhas dentro de um espectro de permissão - nesse caso o medo pode auxiliar a dosar suas escolhas.

Existe também uma grande ‘auto julgamento’ das pessoas que sentem esse medo. Eu entendo que faz parte desse processo desconstruir o estigma do corpo gordo. Mas também entendo que o mundo não é fácil para pessoas gordas (se for mulher então, piorou). O que significa que ter medo de engordar não pode carregar o peso de uma condenação. Tente não ser tão dura/o consigo, siga trabalhando o julgamento que você faz sobre o corpo gordo, mas acolha aquilo que você já viu e sentiu a partir de julgamentos alheias.

Escrevo isso pois conheci e conheço pessoas que sofrem ao se engajar na luta antigordofobia, mas seguem com medo do próprio corpo ficar gordo. Se culpam (mais uma vez) pelo desejo não acompanhar o sentimento, e acham difícil e complexo pensarem assim.

Acredito que não existe um certo e um errado, é um caminho a se construir. Ninguém rompe com tanta história, medo, estigma, expectativa de um dia para o outro. A mudança, quando é na gente, é muito mais árdua. Muitas vezes a mudança começa ‘aceitando’ primeiro o que está fora. Observo muito que aquelas pessoas que começam a enxergar e sentir aquilo que é do outro (conceito esse amplamente conhecido como empatia), tem mais chances de se modificar – no sentido abstrato, não no literal. Então talvez você não precise primeiro perder o medo de engordar para dar um passo adiante. A revolução não precisa necessariamente começar na gente – o importante é que ela aconteça.