TARE: transtorno alimentar restritivo evitativo

O começo da alimentação é um fator muito importante para nossa nutrição. É durante os primeiros anos de vida que somos apresentados a uma diversidade de alimentos, mas também que aprendemos que comer não é apenas ingerir: é também sentar-se à mesa para dividir, é ver a comida como símbolo de cultura e entender que alguns alimentos aparecem em determinados contextos.

Mas alguns pais têm dificuldades em iniciar a vida alimentar dos seus filhos. Algumas crianças são resistentes a novos sabores, e outras a determinadas texturas. E no geral, a criança que não come de tudo ganha o rótulo de “chata para comer”.

Mas quando você vai saber se é só uma fase ou se é algo mais importante?

A introdução alimentar é um momento de muita expectativa para pais e cuidadores. Os imperativos relacionados aos cuidados alimentares das crianças são inúmeros, e infelizmente, trazem muitas dúvidas e preocupação. Devo ou não deixar meu filho comer em frente as telas? Posso cantar músicas? E contar historinhas? Como eu vou conseguir fazer um prato colorido todos os dias? Será que ele está comendo o suficiente? E está se desenvolvendo bem?

Todas esses dúvidas surgem, no geral, quando há recusa constante de alimentos. E aí, os pais começam a rotular a criança como ‘chata para comer’.

APRENDER A COMER

É natural se sentir frustrado depois de preparar aquela refeição maravilhosa e a criança simplesmente rejeitar. Mas se imagine num mundo de novidades, texturas, cheiros e sabores novos. É isso que está sendo apresentado a um bebê que há pouco tempo se alimentava apenas de leite materno ou fórmula.

Ao mesmo tempo que essa fase é linda e cheia de descobertas, com ela vem de brinde uma chuva de questões, ansiedade, incertezas e culpa.

Diferente do que se fala por aí, o ato de comer não é algo automático. Comer é algo que deve ser aprendido. E para aprender, alguém precisa ensinar, certo? Crianças atuam no modo “monkey see monkey do”, ou seja, elas imitam os adultos que estão ao redor.

Essa aprendizagem é baseada em exemplos positivos e negativos. Se as refeições em família são, na maioria das vezes, momentos tranquilos, provavelmente essa criança associará o comer a algo positivo e prazeroso. Por outro lado, se o ambiente familiar é caótico e/ou cheio de pressão, é muito provável que a criança comece a apresentar comportamentos ansiosos durante as refeições.

Portanto, é muito importante que os pais alinhem expectativas e que também observem as próprias questões, antes de iniciarem a jornada com seus filhos.

EXPECTATIVA VS REALIDADE

Se você fizer uma pesquisa rápida sobre introdução alimentar no Google, você vai ver crianças sorridentes lambuzadas de comida colorida e aparentemente adorando a experiência logo de cara, mas não é bem assim que as coisas costumam acontecer.

Durante essa fase, pais e cuidadores podem se frustrar na primeira recusa alimentar apresentada pela criança. Essa recusa é normal, e pode acontecer diversas vezes. Porém, é preciso insistir. Oferecer o mesmo alimento diversas vezes, mas sem insistência em forma de chantagem ou ameaças.

Além disso, é importante que você também coma. Se você não come o que oferece para seu filho, provavelmente ele também não vai querer comer.

Com o tempo, o consumo regular e as preferências das crianças vão se moldando, até que por volta dos dois anos de idade, há uma desaceleração no crescimento da criança e, consequentemente, uma diminuição de apetite. Nesse mesmo período, podemos observar a crise de autonomia. As refeições por aí podem se tornar mais caóticas e com algumas recusas de alimentos que anteriormente eram super aceitos e tolerados.

O QUE É TARE

Se seu filho segue recusando, cada vez mais, e tem reações intensas e persistentes aos alimentos, é preciso ficar de olho.

O Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE) é mais comum na infância e adolescência, mas também podemos encontrar adultos com essa questão. Isso acontece quando,, no passado, a restrição e seletividade na alimentação não foram devidamente tratadas. É importante lembrar que essa recusa/seletividade não tem a ver com a perda de peso, como se apresenta em crianças e adolescentes com Anorexia Nervosa.

Uma criança que tem TARE pode apresentar seletividade em relação às questões sensoriais do alimento (cheiro/sabor/textura), falta de interesse pela comida (falta de apetite) e recusa alimentar por medo de que uma experiência prévia (trauma) como, engasgos, vômitos recorrentes, voltem a acontecer. Não é incomum que algumas crianças apresentem vários desses sintomas ao mesmo tempo.

Se você acha que seu filho tem alguma ou várias dessas manifestações, é muito importante que você procure ajuda especializada. TARE não é frescura, não é coisa de criança “chata para comer” e muito menos uma forma de chamar a atenção. Assim como qualquer outro transtorno alimentar, deve ser tratado com seriedade, até a remissão dos sintomas.

Por fim, gosto de lembrar que a idéia de alimentação como algo além dos nutrientes é essencial para uma boa relação com a comida. Experiências positivas na hora de alimentar é de extrema importância.

 Escrito por Daniela Marchioreto - @danielamarchioreto.nutri