Botox preventivo?

Há um tempo que venho observando mulheres cada vez mais jovens fazendo botox. Outras, não tão jovens, vem aderindo a toxina, sem fazer uma análise de que uma mulher que luta contra o envelhecimento luta contra ela mesma (e perde no final). Claro que cada pessoa faz o que quiser, meu corpo minhas regras, mas me incomoda muito o fato da banalização da coisa, entende? Agora uma linha de expressão aos 30 virou uma ruga a ser combatida.

Annegret Soltau

Mas assim como aconteceu com o emagrecimento (que de tanto ser censurado, colocou a roupa de auto cuidado), o botox aparece com a questão da prevenção. Existe uma discussão sobre o real efeito da toxina botulínica preventiva, e o que eu tenho lido é que a grande maioria dos médicos e médicas aponta que não é bem prevenir, mas sim adiar o aparecimento das rugas. Meu papel aqui não é discutir a eficácia dessa técnica, porque não é a minha área. Mas quero que você se questione: se você está usando a carta da prevenção, está também ‘prevenindo’ esse envelhecimento de outras formas? Atividade física regular, por exemplo, você tem feito? Está se alimentando bem? Parou de fumar? Tenta dormir bem? Bebe água?

Envelhecer não é um processo prevenível. Ele é diário, e a alternativa mais certa é não estar mais em vida. Claro que dá pra gente tentar chegar na velhice com mais qualidade de vida, e por que não, se sentindo bem na própria pele. Mas isso não se resolve só com botox e ácido hialurônico. A pele, assim como outras partes do corpo, é um órgão que se forma e se destrói não só por estímulo e intervenções externas, mas principalmente pelo conjunto de atitudes que adotamos dia após dia, e sobretudo por aquelas que dizem respeito a qualidade de vida.

Não estou iniciando uma cruzada contra o botox e outros procedimentos. A minha opinião sobre fazer ou não diz respeito a minha pele e as minhas escolhas (e não, não fiz e não pretendo). Eu sigo acreditando que traços e rugas contam a nossa história: sobretudo as do rosto, que diariamente sinalizam o turbilhão de emoções que vivemos. Mas também sei que o mundo é cruel, e é difícil não ceder a isso numa sociedade tão opressora. Mas fica aqui o meu convite para pensar nas escolhas automáticas disfarçadas de bem-estar que nós mulheres fazemos em busca de um padrão liso, magro e sem grandes emoções. Do jeitinho que o patriarcado gosta e quer!